Economia, Economy, Politics, Portugal, Rambling, Rant

O Complexo Académico-Investigacional Português

A polémica do fim do acordo de parcerias com instituições académicas de topo dos Estados Unidos da América fez-me avivar memórias antigas dos tempos da faculdade, e de algumas coisas que provavelmente eu não gostaria de me lembrar. Mas em memória da memória vou dissertar do pouco que sei sobre alguns dos aspetos que são importantes para dar um enquadramento e contexto a esta polémica.

E um dos aspetos que tem sido mais importante na conflituosidade do pequeno mundo académico lusitano, é que Portugal é um país com poucos recursos financeiros mas com alguma gente com grandes apetites. Apetites que normalmente andam à volta de questões de estatuto social e cultural, influência junto ao poder central, possíveis aventuras económicas e o estabelecimento de feudos que garantam um poder seguro e não regulado. Isto normalmente leva que o mundo académico Português esteja repleto de micro-agressões, de cliques e de gente que pode partilhar um gabinete mas que raramente se falam.

Uma parte desta conflituosidade está na precariedade dos postos juniores dentro dos departamentos das faculdades, do excesso de competição entre colegas, e do peso dos favoritismos pessoais na seleção de quem fica e quem sai. Isto não é só uma realidade Portuguesa, mas uma realidade no mundo Ocidental, e em que a pressão de escrever artigos em quantidade em revistas de referência criou um ambiente ainda mais tóxico. Algo que não favorece o desenvolvimento técnico e cientifico mas que favorece e muito as hierarquias dos departamentos e faculdades, e os decisores políticos. Que assim arranjam maneiras de manter o controlo discricionário sobre os investigadores, e alunos de mestrado e doutoramento que querem enveredar por uma carreira universitária.

Fica também a nota, que muita da conflituosidade que é gerada dentro do período em que a pessoa está ainda numa posição júnior normalmente mantém-se ou é amplificada quando a pessoa consegue uma posição nos quadros da instituição. Pode-se dizer que uma carreira académica não se faz com grandes descobertas e trabalho técnico, mas com grandes frustrações e ressentimentos por todos os fretes e trabalho que não levou a lado nenhum. Sendo que há outros aspetos que tornam o processo uma doença endémica…

Dinheiro e Reputação

Tipicamente a disponibilidade de financiamento para qualquer projeto de investigação está sempre condicionada aos orçamentos dos financiadores do costume. Seja o Estado, a UE ou qualquer outra instituição publica ou privada que tenha um programa de financiamento de investigação para um determinado ramo de ciência. A alocação de dinheiro para cada ramo ou tema está muitas vezes sujeita a prioridades motivadas pelos temas da moda, o que significa que um departamento pode ser obrigado a mudar o seu foco de investigação porque os fundos secaram e agora o que é moda é outra coisa qualquer. E qualquer Senhor Professor que quiser manter-se no seu ramo preferido de investigação vai ter que chuchar no dedo e perder peso dentro da faculdade, e ter diminuir o número de investigadores que tem disponíveis.

A competição por financiamento está ao mesmo tempo ligada à influência que um académico ou grupo de académicos podem ter, isto cria incentivos para a guerrilha reputacional. Uma vez que um académico que tem fontes de dinheiro regulares pode aumentar a sua influência dentro da instituição e pode com isso ter mais liberdade de ação. O que normalmente gera todo o tipo rumores, insinuações e por ai em diante. Em alguns casos porque a reputação pode determinar que essa pessoa pode condicionar o trabalho de outros investigadores e condicionar alocações de orçamentos porque está presente nesses comités. Por estas razões o espaço académico é sempre extremamente politizado, muitas vezes mais por razões egoístas e de auto-preservação do que pela necessidade de avanço da ciência.

As Particularidades Lusitanas…

As instituições de ensino superior em Portugal sofrem do atraso da sociedade Portuguesa em se urbanizar, e de um atraso da evolução da literacia na sociedade em geral. Atrasos estes que foram propositados, e que derivaram da existência de elites sociais que dependiam da exploração do trabalho camponês, e que não estavam interessadas na existência de maior mobilidade social ou na modernização sócio-económica e cultural do País. E as faculdades foram em muitos casos o espelho disto, o que significava que eram instituições que trabalhavam segundo lógicas internas e de classe. Eram sítios onde os ricos e os remediados podiam pôr os seus filhos a estudar e garantir um titulo que podiam usar no futuro. Sendo que as universidades são muitas vezes pontos de recrutamento para grupos políticos e partidos. Com um outro aspeto a adicionar é que a sociedade Portuguesa é de natureza corporativista e clientelar, e onde o nepotismo e a cunha são uma realidade sempre presente.

Em termos históricos a evolução do sistema de ensino superior foi sempre um bocado desequilibrada, sendo que os poderes políticos do momento ora restringiam o acesso, ou cresciam rapidamente o sistema, ou cortavam o financiamento de forma brusca. Uma vez que não houve uma evolução lenta e continuada, mas uma série abanões bruscos, que tiveram como consequência que as instituições cresceram de forma pouco consistente e com tendência para ter um peso administrativo crescente.

A união da escassez de recursos financeiros com a cristalização burocrática e administrativa geraram resultados sui generis. Porque se um diretor de um departamento ou líder de grupo de investigação segue as regras à letra arrisca-se a perder mais fundos, a perder investigadores e a perder influência. O que significa que cada departamento ou grupo tem que arranjar fundos que sejam independentes da faculdade ou que possam ser utilizados de forma autónoma mesmo que o enquadramento do seu uso seja irregular. Dada a natureza do povo luso que vê vigarice em tudo, isto são muitas vezes as regras do próprio sistema. Estar à espera que uma série de funcionários movam os papeis para assinar, que as pessoas responsáveis assinem a tempo e horas e que as dotações orçamentais sejam libertadas pelo ministério. Até tudo acontecer já as dividas a fornecedores são tantas que os investigadores têm que pagar as coisas com os seu próprio dinheiro.

A esta situação acrescem as políticas de austeridade e as cativações agressivas de fundos do ministério das finanças. Que por sua vontade e interpretação provavelmente teria cativado os fundos que vêm dos programas europeus e outros para serem utilizado para outros fins, deixando os departamentos das faculdades à sua sorte. Estas políticas tiveram o efeito de gerar mal estar e maior luta pelos restos de dinheiro que podem ser distribuídos de forma diferente.

As Parcerias…

O modelo de parcerias que está agora em jogo foi obra de um grupo de pessoas a qual Professor Mariano Gago teve um grande peso, não foi o único. Mas teve suficiente influência política, e juntou várias pessoas que tinham peso não só no PS mas também no PSD. O que de facto manteve o programa com alguma persistência no tempo, o que não é habitual cá nesta terra. De facto este grupo estava orientado para um modelo de desenvolvimento cientifico e tecnológico que pretendia uma interação mais frequente entre o sector privado e a academia.

Ora… Portugal é um país socialmente conservador e altamente atávico, as instituições académicas normalmente só fazem alterações quando estas já existem em todos os outros países há várias décadas. Há também muito pudor em envolverem-se com o sector privado, e o sector privado é também arisco a envolver-se com as universidades. Por sua vez os professores preferem influenciar dos seus gabinetes o poder político, ou serem recrutados para pastas ministeriais, mas raramente envolverem-se com projetos no terreno com outros parceiros.

Esta tentativa de mudança tem nascimento durante o período da bolha tecnológica de 2000, o intuito é através da interação com instituições norte americanas conseguir criar uma rede de contactos com pessoas capazes de pôr em pratica projetos com alguma viabilidade. Para isso foram sendo selecionadas pessoas com resultados académicos e com características de ambição e “workaholism” que pudessem compensar o investimento que seria feito nelas. E nesse sentido o programa foi de certa maneira algo darwinistico

Do ponto vista institucional da velha academia Portuguesa isto tinha a possibilidade de ser subversivo, pois implicaria um aumento de doutorados com pergaminhos de instituições com reputação internacional. Que esses doutorados poderiam ter um “fast-track” de carreira complicando as perspetivas de outros e de muitos doutores já estabelecidos que se poderiam ver-se ultrapassados.

O outro aspeto é que o pivot económico e financeiro de criar start-ups que tinham acesso a Venture Capital, e provavelmente por arrasto o suporte de instituições financeiras nacionais ou ligadas ao Estado, isto poderia potenciar o aparecimento de vencedores que poderiam pôr em causa o status quo. Isto adiciona sal na ferida e tem no ambiente sócio-cultural Português, que vê na atividade empresarial um antro de pecado, uma forma de super-mobilidade social pouco aceitável. Em boa verdade, as pessoas que foram escolhidas para estes programas saíram largamente favorecidas e puderam ter oportunidades que seriam impossíveis dentro do espaço paroquial lusitano.

Em Conclusão

Depois de 17 anos de programa e de em média 18 milhões de euros por ano, a realidade alterou-se. O grupo que era o principal promotor deste programa perdeu influência no ministério e nas instituições de promoção empresarial do Estado. As pessoas foram saindo e perdeu-se vitalidade, e suspeito que os resultados deste programa tenham sido mistos. Alguns sucessos, recuos, desaires e desapontamentos, coisa bastante normal em qualquer programa de desenvolvimento.

Neste momento sabe-se muito pouco sobre as razões que levaram as 3 instituições do Estado a votar contra a continuidade do programa em contradição com o voto maioritário das personalidades independentes. O voto negativo do Conselho de Reitores já era de esperar, dada a natureza altamente conservadora e até mesmo reacionária da academia Portuguesa, e também pela fome de fundos. Mas fica esta incógnita, que não se percebe… Porque as explicações da ministra não são baseadas numa lista de factos.

O que significa que… ou não quer ou não pode dizer… Ou porque revelar os resultados práticos pode levar a revelar aspetos menos positivos que podem gerar embaraço político. Ou porque existem obrigações contratuais que podem limitar o âmbito da divulgação de determinados detalhes que tenham consequências reputacionais. Ou simplesmente os grupos que se instalaram no poder não estão interessados em continuar o programa e querem acaba-lo com o mínimo de barulho e fazerem pela vidinha deles.

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Navegar à Costa

De uma forma algo inesperada, e de certa maneira talvez até mesmo providencial, António Costa apresentou a sua demissão depois de se conhecer mais detalhes sobre a operação policial relacionada com negócios do Lítio, Hidrogénio e outros. O facto invulgar de terem sido também realizadas buscas policiais em São Bento puseram o primeiro ministro demissionário numa posição delicada. Mas se pensam que isto é uma desgraça para o animal político Costa, estão muito enganados. De facto isto foi a deixa que Costa precisava para sair de cena e poder enveredar por outro cargo.

As razões para a necessidade de uma saída são muitas e definitivamente o ambiente conjuntural nacional está a ficar complicado, e vai ser muito difícil continuar a repetir que não há austeridade quando as evidencias da austeridade são cada vez mais difíceis de esconder. E por mais jeitinho com as palavras que se tenha, e por mais campanhas de imprensa e de noticias de tomada de medidas, o certo é que nada ou pouco se faz. Porque em amarga verdade não há dinheiro para grandes investimentos de encher a vista, a Comissão Europeia obriga ao aperto das contas. E, mais importante, há clientelas para alimentar que têm influencia e capacidade suficiente de borregar qualquer projeto que não inclua os seus interesses.

Aliás, os negócios citados como estando na origem da investigação policial dão uma primeira indicação da natureza destas clientelas… Normalmente muito ligadas à estrutura burocrática de licenciamentos e regulação de atividades económicas, à atribuição de subsídios europeus, e muito importante… aos aparelhos partidários.

O cansaço de Costa já era evidente depois de ganha a maioria parlamentar, era claro que seria muito mais difícil de domar os apetites daqueles que se sentiriam com menos restrições sobre a sua ação. Que mesmo com uma maioria seria impossível fazer cumprir as suas promessas eleitorais, visto que a situação orçamental, falta de soluções praticas e de uma estratégia clara não permitem muito espaço de manobra. E o pior é que depois de mais de 11 anos de austeridade os resultados dessa mesma austeridade estão à vista nas escolas, nos hospitais, nos transportes públicos e no descontentamento da população.

Em termos de futuro para Costa pode-se prever que depois de um período de luto político que encontre um novo poiso mais adequado aos seus talentos. Onde pode realmente brilhar acima do paroquialismo político nacional. Ou então com muito azar vai ter que concorrer para Presidente da Republica e vai ter que aturar os mesmos personagens que o levaram a ficar no governo.

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Is China At the Start Of Its “Japanese Bubble” Moment?

In the late 1980’s Japan was making headlines in the US news media as potentially surpassing the United States as the biggest economy in the World. In fact there were was such a loud hype fuelling this perception that many Japanese leaders, in business and in public decision making, got inebriated in the process. Such was the smug confidence on the superiority of their model. But all came crashing down at the start of the 90’s, and Japan got trapped with large amounts of private debt and suffering from stagnant or meagre economic growth since then.

The issue that was at the root of Japan’s economic crisis and stagnation was a large volume of debt, that led to a large volume of non performing loans once the economy suffered a cash flow problem, and to a break in consumer and business confidence that compounded the effects of everyone attempting to deleverage at the same time. Also, in an attempt to avoid further confidence loss, or other reasons, some financial institutions kept rolling loans to some companies that were effectively bankrupt, creating a zombie economy.

China’s problems have a similar pattern, although they do not follow the same script, since their origin is very different. Both are crisis of excess of debt and over-investment, but the drivers aren’t similar. While Japan’s debt growth was mostly fuelled by private actors, and the result of speculation on assets in real estate. The case in China is debt growth fuelled by state and local governments to prop up GDP numbers by leveraging the real estate market and infrastructure construction.

This economic growth on steroids fuelled by large amounts of investment, making more than 40% of GDP, was mostly financed through large amounts of debt with the local state banks. And was directed by the local governments in each province according to the Central Government diktats. The biggest issue with this is: that at some point in time there will be a limited number of opportunities of investment that will be economically sustainable. That is a moment where there will be decreasing returns for each extra million that is spent.

Money at the Root of All Evil

During the 2008 financial crisis, Chinese Leaders surprised by the quick contraction of the Chinese economy. Decided to increase the level of investment to keep the high rates of growth and keep the people happy. It has to be said that China already had very high levels of investment to start with, and was following a script that was similar to Japan and South Korea of economic growth through the relentless build-up of fixed capital even if at the expense of private consumption.

But the shift was directed towards fixed growth numbers, and… There is a limited number of ways to achieve this. And… One of the few ways to reliably game the economic numbers is by building things and keep building more big things. So, as it was to be expected, things that need lots of cement, lots of energy, lots of steel, and lots of manpower to be built, and this will generate GDP growth. And even if the buildings are empty for a time, the money spent on the inputs will percolate in the economy, making a lot of people happy.

Although… There is a problem… How to finance all of this very wasteful investment?… Since there is another elephant in the room, this investment is paid by local governments. But these have already a lot of financial and public responsibilities, and have limited distribution of tax receipts that is skewed in favour of the central government. That meant two things:

  1. Getting ever more loans from the State and Private Banks.
  2. Use land lease sales to property developers to get more money.

The second aspect created an inherent conflict of interest that made local governments being willing participants on the real estate bubble that was fuelling the growth of big fortunes. And since for most Chinese people there are very little financial instruments that are viewed as safe, this drove real estate price gains during 2008 to 2019. As peasants and older urban residents were evicted from their land and homes to keep the real estate development pipeline going.

When The Party Stops

The continual rise in real estate prices would have to stop someday, but not before the financial size of the problem started to become apparent to the central government. And in many ways the Central Government put itself into this position. First by mandating GDP growth figures that were not sustainable. And second, by over-reacting to events and mandating actions from the local governments without the proper budget tools to finance the extra expenditure.

This was such a case with the response to Covid outbreak, that meant draconian lockdowns that meant an economic shutdown that caused very big complications locally as well as supply chain problems throughout the world. The sharp demand reduction meant that some private businesses and private citizens were economically wiped out, in other cases it meant that people working in the private sector were forced to go into more debt just to stay afloat. And it will take some time to get a better idea of the full impact of the COVID lockdowns in China.

The most visible impact of the Covid lockdowns was on the local government finances, that suddenly had to spend a lot of money on tests, and lockdown enforcement while at the same time having diminishing tax receipts. Which meant more borrowing, and even bigger incentives to sell land to property developers.

Eventually someone on the Central Government got spooked and decided to rein in the level of bank exposure to the real estate business. But again… Instead of a feather, it used the whole chicken… The sudden breaks on bank loans to real estate developers meant that the business model of many of these companies was now illiquid. Many scrambled to get around this by using customer’s deposits, and using pre-sales and selling financial products to get new projects going. This ongoing drama started unfolding since 2020, and it’s an example when there is a contradiction of alignments between local and central governments. With local governments desperate to keep the real estate Ponzi schemes going to continue to get money from land sales.

Not So Uncharted Territory

China is the place that invented paper currency, but also the first place that experienced problems with managing rampant inflation resulting from excessive printing of private notes of exchange by private merchants and the State. That eventually led to political instability that contributed to the collapse of the Yuan dynasty and to the rise of the more conservative Ming dynasty that returned to metal currency. Which eventually would cause a world shortage of silver during the Qing dynasty, due to it being the only way to purchase Chinese luxury goods.

So in many ways this type of crisis aren’t uncommon, in reality through history China has often swinged between market oriented to command economy. Either because of an underlying crisis of credibility in markets to maintain political stability from the side of political and intellectual elites. Or, because power and control are very often their own rewards, and China being for so long a large hegemon in the region meant that holders of political power did not feel the need to share power.

The issues with excessive debt and deleveraging will have a different course than Japan, mostly because the holders of the large majority of debt are state actors. But deleveraging will still be painful, and that in some time (if not sooner) the Central Government will be put on the following conundrum: Either allow local governments to default on their debts and be forced to save the banks or allow Banks to rollover the local governments debt or even keep them borrowing more.

Any of the solutions is problematic, since the debt has reached unsustainable levels. And this means that the life of the regular Chinese person is about to get much more difficult. Because the worst situation will be one that fails to recognize the problem, and the bigger risk is that a large part of the economy will be zombified. As with the Japanese case, failure to address the underlying problems led to deflation and persistent economic stagnation. But in many ways the Chinese system is allergic to institutional autonomy and allowing for more transparent solutions to problems.

It is unavoidable that a painful process of deleveraging is under way in China, it’s also expectable that those that have the least power and least influence will be made to pay for the excesses of the last 15 years. It won’t be very pretty, and it has the potential to be very corrosive socially and politically. And as Machiavelli once said: “But above all he must refrain from seizing the property of others, because a man is quicker to forget the death of his father than the loss of his patrimony.”

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The Near and Medium Term Risks of ChatGPT and Other Similar Developments

As many other people before me, I will opine about the new developments on the realm of “AI”. Namely ChatGPT, Dall-E, Midjourney, etc., that are able to generate text, image, video or sound outputs given some sort of text input. These systems have been showing very interesting results that on face value seem to support the idea that this is some kind of intelligent crafting that can get reliable results.

There are though two initial big problems that are often not addressed on the news hype:

  • First, the data that is being used to train the underlying statistical generative model is not the necessarily licensed to be used in this way. And there are big legal questions in terms of who owns an output that is in fact a statistical representation of copyrighted material or even a full copy of the original.
  • Second, these are statistical generative models and depend on the work of engineers and analysts to develop and evolve the model to get accurate results. The problem is, you can get 90% right but the remainder 10% will be hell on earth to get it right.

There has been a large advancement nonetheless from previous experiments on generative models, specially in the way that ChatGPT can generate readable and mostly grammatically correct text. It is also not generating annoying or even insulting text resulting from several cycles of interactions with internet netizens or social media trolls. A fate that cancelled previous “AI” chat bots, that eventually degenerated into complete screaming sociopaths. So this means that the researchers at least were able to tame some aspects of the generative model as to not quickly become offensive. And this is an important aspect if it is to be used in the Corporate world.

On another aspect, I think that many companies like Google or Facebook avoided to launch something similar to ChatGPT until recently, cause the results from these generative models can fail in surprising and very non-deterministic ways. That cannot be managed with some meetings and a pep talk. There are risks, specially if it offends people or gives wrong results, that might cause further liabilities and reputation loss.

But for all the buzz and promise there are aspects that will distinguish generated results from something done by a human being.

Training the Models and Trained Models

The first big aspect of these generative models is the large amount of data that they require to be trained to get generally accurate results. It is not the same thing as with humans or even other animals, that they require just a limited number of examples to get things mostly right. For example, a young child will be able to infer what is a cat or a dog quite quickly from examples that are in some cases drawings that have minimal detail.

On the other hand you can supply a generative model thousands of examples, and sometimes it will say that a dog is a cat. That means that a lot of work needs to go on fiddling with the parameters of the model, and acquiring datasets that are well categorized and big enough so the generated results are accurate enough.

But there are limits, and these limits are often not very trivial and often represent aspects that even a person will struggle with. And I will use as example of this the generative models Dall-E and Midjourney, these are image generation models.

And these have become a new source of YouTube videos, such as “Mexican Star Wars”, something something as a 1980 TV sitcom, and so on. Where all kinds of mash-ups are being used to get some surprising results. Which means that your 9 year old self can get to see all of those imagined universes that were mixing in your mind at the time.

The images that are generated might be interesting, but they often show some interesting imperfections:

  • After a while even after modifying the theme slightly the same general image pattern starts to become predominant. That means the same face, same posture, same very similar expression, with just some motive and theme changes.
  • More than one iris in the eyes, and also the eyes pointing to odd directions or not conforming with usual eye direction positions.
  • Hands with more that five fingers, and odd hand postures, and even more than one hand in different postures, or an amalgamate of hands that merged together. That can also be said about leg postures and feet.

For the first problem the lack of examples in the dataset that fall into the input categories will mean that the output will start to converge to very similar outcomes. And in some cases given the right inputs it will give you practically the original image that is in the learning dataset. Also, it will converge on dominant features within the dataset for particular categories, if you have only images with people in the same body posture. That posture will be replicated time and again, and even merge with other type of postures when it is unable to tell them apart to get very odd results. In some cases these dominant features in the model will appear as artefacts on the image, like a ghost from a double exposure film.

The other problem is when we need to generate more granular structures in the image that have more degrees of freedom of movement. And either aren’t properly categorized or the model does not account for specific forms of variation. This is the case with hands, fingers, leg postures, knees, feet, teeth and eyes, these are features that require some detail. And in the case of hands, limbs and feet are something that it isn’t easy even for artists to master. Because the model doesn’t know what a posture is, it fails to detect the direction of the limbs and fingers. So it tends to merge features that it defines as similar.

These models don’t compartmentalize aspects that need to be taken into account separately when generating the image. They seem to optimized to deal with the 90% of the image, the percentage that is well characterized and large enough to fit well under the training model verification. So faces, hair, close-up pictures, and any feature that has less degrees of freedom of movement.

The fact is that these generative models are very dependent on the type of categorization and size of the dataset, and the complexity of parameters that are being used in the model. That in turn will tell in some way where it generally works well and where it fails to produce accurate results.

ChatGPT the Killer App

At the current moment Microsoft is using the buzz around the integration of ChatGPT on its Bing search engine to grow its pitiful market share. It is probably too early to tell if that will get the results that they are expecting, but it will be a good outcome if we start getting good answers from search engines for a change.

The current state of Google with its massive drive for ad monetization and excessive SEO manipulation has led to ever more loss of relevance on its search results. And, I remember that ten years ago I used to get very good results from my search queries. But lately it is just SEO dribble and ads, so anything that cuts through the noise will be a big improvement. Although once Bing’s market share gets to a certain level, I bet Microsoft managers will find some way to nerf the ChatGPT model to deliver extra ads and extra paid content that is not relevant for the user.

The generative model of ChatGPT offers a lot of opportunities to quickly generate essays, articles and even computer code. It will have the advantage of using a large semantic model and having it being trained on a large dataset. In most cases the advantage of text sources is that they can be more easily categorized, so it enables generation of various forms of text content and on various subjects. But again, that won’t mean that the generated text will be completely accurate.

This accuracy problem will be more visible when the user knows more about the domain, and when the generative model cannot differentiate between domains or some convergent feature in the data ends up eliminating the relevance of a domain specific piece of information.

So you probably can ask ChatGPT to talk about Cerenkov Radiation in the style of Rodney Dangerfield, and you might get some laughs in the process. But once you start trying to generate articles or essays on more specific subjects and themes, you might find that you are getting well written garbage.

Worse of all is when you get actually something that is broadly correct but has errors in particular details. Or it lacks context that is fundamental to understand the subject of the text. So, there is a risk that ChatGPT will generate a superficial text that fails to inform the user of particular nuances that are important. And give an incorrect sense of understanding on a subject. This is a time where laziness will be extremely rewarded but at what cost…

Hey, how about this Cerenkov Radiation, huh? I tell you, it gets no respect. You got all these particles zooming around faster than the speed of light, and what do they get for it? A measly little blue glow. No respect, I tell ya.

I mean, come on, this is some wild stuff. We're talking about particles going so fast that they break the cosmic speed limit, and what do they get in return? A little bit of light. It's like, "Hey, thanks for violating the laws of physics, here's a blue glow as your reward."

And don't even get me started on how this stuff was discovered. I mean, it took a guy named Pavel Cerenkov to figure this out. Can you imagine that conversation? "Hey, I discovered a new type of radiation. It's blue and it happens when particles go faster than light." "Uh, yeah, sure you did, Pavel."

But you know what? Despite all the lack of respect, Cerenkov Radiation is actually pretty cool. It's used in all sorts of scientific instruments, from particle detectors to radiation therapy machines. And hey, maybe one day we'll even figure out a way to harness this blue glow for something really useful, like a new kind of energy source or something. Who knows? The possibilities are endless.

ChatGPT Is Going For Your Job

In the short term there are two professions most at risk with ChatGPT, journalists and people that work in customer service. The first, because these generative models will generate quick and short articles full of SEO terms, and probably in time it will also generate larger articles based on some seed material like a newsletter, a police report, or a PR document. Currently making articles for news websites is already a cut throat business, and people writing these articles often are forced to write lots of them in a very quick pace, hence the downward quality trend that troubles most of the news these days.

The result is that we might reach a day that the initial news was generated by a ChatGPT similar bot, and then other bots just process and regurgitate some form of the article that fits into the brand of the news outlet. This can have dire results if the information is not correctly vetted, checked and edited, as it can produce at an industrial scale rumours, lies and propaganda.

For call centres and customer service the threat is around the complete automation of first tier voice call representatives. Specially in cases where people aren’t familiar with the logic of the automated call scripts and require a voice operator. Since at this stage voice synthesizers are more than good enough and the issue is more about the problem of voice recognition. Since voice patterns vary very wildly depending on age, gender, health condition and if one is a native speaker, although in the last item it is possible that this will also enable handling of calls in someone’s native language. From the point of the call centre operators the issue is how to control the chat bot to not go off the rails and start being offensive. Or also very important, not being exploited by the caller and do something it is not supposed to do.

There is also the problem of using this technology for outbound sales calls, this might present a series of problems. Because the bots might be trained to be manipulative and adjust their sales strategy to the emotions of the targeted person. The regulation of psychological manipulative practises by automated bots might need to be done with urgency, and the practise needs to be controlled otherwise we might find and industry with already low ethical standards to become a threat to society’s welfare.

Artists On the Line of Fire

Artists have a lot to lose with systems like ChatGPT, the first problem for writers, graphic artists, painters and film makers, is that it will generalize the entry of people in theirs fields that will over saturate the market for content. People that will be in practise nothing more than artistic frauds but that will only be at most producers. Because their part of the work is giving directions to generative model and making corrections to output here and there. But even the generated results are nothing more than munching on the work of others, since that is how the model was trained in the first place. There will be little originality, and we all will be bombarded with mostly mash-ups and derivative content, and occasionally something that merges aspects of several works that resonates culturally. But at the same time it is very dodgy in terms of copyright, since the datasets used to train the models might be full of copyrighted material.

Also actors and voice actors might also have more trouble finding work, since the artificially generated versions will be cheaper and more pliant to the wishes of directors and producers. It is very possible that film stage sets become mere green rooms with place actors with costumes that will be used to allow for the projection of any version of a virtual actor. This in some cases might be even the common appearance of dead actors into current productions, suddenly Bruce Lee is still alive and kicking on a streaming service.

The risk is that the production of any type of content will become stale, first because of the audience tendency towards nostalgia and sometimes a very unhealthy emotional attachment to the initial versions of the characters and stories. Second because companies will make risk averse decisions that will prioritize derivative content for things that have market recognition.

Again, I will stress. That this will make it more difficult for artists to be able to be recognized from all the noise of the generated content. This will impoverish artists, and will increase the market power of big corporations.

Coders From Talent to Replaceable

Since ChatGPT started to get buzz in the media, the examples where it generated code started to be reported and appear on social media posts. This type of thing is not new, several big companies are trying to automate the work of developers. And sometimes a piece of news appears, that some company got some system working to generate code and correct bugs and then after a while nothing more appears. Either the company got protective of the technology or the bot got off the rails and it was more trouble than it was worth.

From companies point of view, being able to replace expensive developers would be a plus, and probably the work would be done faster… But… Sometimes one has to be careful what he\she wishes for. And, yes… ChatGPT can be helpful in getting some answers to some problems or find some examples, or boiler plate code when search engines have failed. But coding isn’t just getting some code that answers a specific question. It is very often a very large integration job that has to deal with existing code bases. And there are already examples of ChatGPT generating code that is not fit for purpose, although at first glance seems correct.

Because of this, it forces the person to proof read the code and verify it, which might add some extra risks. From my point of view this will be a boom for frauds and people that are barely passable as coders. This profession is full of entry code tests and all kinds of code challenges that ask for people to solve irrelevant problems in most day to day professional life. Which often tend to benefit either people that barely left university, or people that train relentlessly on those tests.

This will mean that situations like I had to endure in the past will become more common, of a former co-worker that would make mostly boilerplate code, and fake his tests as to pass them. But not implement the business logic, and then say he was finished and passed to another project. And I was stuck to solve the bugs afterwards, so… ChatGPT won’t solve favouritism inside companies.

I don’t think that there is anything wrong with using ChatGPT to find a solution to a problem, or find a piece of information. I use search engines for that as well, although the quality of the results is getting poorer and poorer. But one thing is asking questions, the other thing is being unable to think. In my view there are tree general skills that are usual lacking from coders in the market:

  • Proof reading code, and being able to read other people’s code (or hell on earth).
  • Capacity to think without making too many dogmatic assumptions.
  • Capacity to understand several domains of business and knowledge.

The bigger risk for developers with ChatGPT is that it will increase the competition for available “good jobs” and that it will decrease the wages and increase the work loads. Since barely passable coders can fake it when working on the most simple problems or those that the generative model works better. At the same time this will also mean a ramp up on stupid code tests, where one is applying for a role developing on Amazon AWS, and will be asked to do some idiotic sorting algorithm challenges under 30 minutes. News Flash, data structures and algorithms are only important in university and barely 1% of the jobs in the market.

The result of this higher competition will be the erosion of skills, and of offloading to the generative model of an increasing share of the codebase. This will have impact on the nature of bugs, and will impact the lead times between discovery and resolution.

In Conclusion

The introduction of these systems like ChatGPT can have a very disruptive effects on the jobs market, if not done well it might even represent the collapse of most States fiscal base. Since corporations that barely pay any tax will have a bigger share of the pie, and people that work for a living and are responsible for most of the tax receipts lose market power, their jobs or have lower wages.

It is also very important to address the fact that the learning datasets have copyrighted material, and that authors need to have the right to opt-out of these datasets. And also need to have special licenses to be paid for the use of their work in this way.

The other aspect is the centralization of this technology, since these systems will be housed on large Data Centers in the cloud. Subjected to be billed as a service, which means cloud providers will rack enormous amounts of money simply by having monopoly power. These system aren’t sold as an appliance or as a program to install on your machine run locally. Cause in this case, I could see a very useful application. If one is an artist and needs to automate his\hers work, by feeding its work examples to the model and allow it to do the most tedious work in his\hers style.

Because… Once a system is in the Cloud, it is not yours. You don’t have really control, and… Even with assurances, sooner or later some policy change in the platform will allow it to peek and copy your work.

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Portugal, Rambling, Rant

Porque Não Se Enriquece do Trabalho, E Quando se Enriquece do Trabalho

Aqui vai um artigo de resposta ao artigo de Raquel Varela no seu blogue, “A Falsa Questão da Demografia e o Roubo das Pensões”, e em que apesar de concordar com alguns pontos. Não consigo concordar completamente com a visão dela que não é possível de enriquecer com o trabalho. E se uma pessoa enriquecer é provavelmente resultado de vigarice ou de algum crime contra a humanidade.

No artigo em questão o tema vai à baila pelo Bisavó ter feito uma temporada nas colónias Portuguesas em África e talvez pelo pecado de origem do dinheiro, preconceito, ou conhecimento de causa, este é considerado de má origem e resultado de alguma malvadez. Eu pessoalmente dou o beneficio da duvida ao Bisavó da Raquel Varela, mais porque não conheço a sua historia e porque sei dos riscos que se tomam a emigrar. Mas não conheço a dita pessoa…

Mas conheço bem o preconceito contra o enriquecimento comum a muitos marxistas portugueses, que muitas vezes o perdem quando eles próprios enriquecem. Acho que a Raquel está muito ligada à teoria marxista e o seu modelo de valor. E que não parece muitas vezes interessada nos aspetos empíricos que possam a contradizer.

No entanto, eu posso dizer uma coisa sem estar em contradição, que é muito difícil enriquecer com o trabalho e para a maioria das pessoas é impossível.

A Natureza da Riqueza

Quando se trata de conseguir riqueza, o dinheiro funciona como uma bomba atómica, isto porque para crescer de forma acelerada tem que se ter massa critica. Ou o momento em que o dinheiro faz dinheiro. E em que através da sua aplicação em ativos financeiros, imobiliário, terrenos ou outros ativos é possível gerar capital de uma forma desproporcional ao esforço.

O problema aqui é que os rendimentos do trabalho estão sujeitos a maior controlo tributário pelo Estado, sujeitos a incentivos por parte da entidade empregadora a serem nivelados por baixo. E normalmente sujeitos à competição por outras pessoas que fazem o mesmo trabalho e que pedem salários menores. E aqui começa o problema, é mais difícil atingir a massa critica financeira no caso de se estar a trabalhar para outrem.

E para isso acontecer, o tipo de sacrifícios necessários podem ser exagerados, levar a uma descida de perceção de estatuto social, ou causar a inviabilidade de uma relação, ou manutenção de uma família. Porque vamos ser honestos, toda a nossa existência está condicionada por custos que somos obrigados a assumir, por razão de pressões familiares, sociais e de competição por estatuto.

Ora, isso obriga a outras alternativas em relação aos rendimentos próprios do trabalho, que pela sua natureza, exigem condições especiais ou a tomada de riscos que podem ser desproporcionados.

Como Enriquecer do Trabalho ou Quase…

O maior problema para ser resolvido é a necessidade de capital semente que seja suficiente para capitalizar numa oportunidade. Para todos os efeitos está-se a fazer uma aposta, que não é muito diferente de escolher um parceiro/a romântica, emprego ou lugar para viver, há sempre uma perspetiva de ganho e riscos associados. E nisto é onde a maioria dos empregos falha, o salário mediano em Portugal é extremamente baixo e mal dá para viver, o que significa que as vias para encontrar o capital necessário estão na família ou via endividamento.

Se puderem arranjar o dinheiro via família, estão com sorte e sigam para bingo. Sabendo que se as coisas correm mal os vossos familiares poderão sofrer também as consequências. No entanto se o endividamento for à única opção para arranjar capital, então os riscos associados são muito maiores e a possibilidade de ruína muito maior.

Este problema do capital inicial é sem duvida nenhuma aquele que vai criar mais constrangimentos, e provavelmente aquele que dentro do panorama português limita mais o empreendedorismo.

Num aparte, deve-se dizer que fazer este tipo de aposta nem sempre é feita de forma racional, com muitas pessoas a endividar-se para comprar ativos especulativos e quando o mercado muda de direção perdem literalmente tudo…

O outro aspeto da possibilidade de enriquecimento com o trabalho, é a oportunidade de poder ter informação sobre uma oportunidade. Ou ter acesso a uma oportunidade que ainda não foi detetada, ou foi vedada a outros, ou está fora das capacidades da maioria. Isto pode ser tão simplesmente como ter acesso a informação que indica que há uma atividade rentável que existe num outro País e não há em Portugal, ter contactos em várias agências de comunicação e media e fazer uma empresa de estudos de mercado, ter um amigalhaço na câmara municipal que trava um projeto para poderes apresentar o mesmo projeto em condições mais favoráveis.

Um dos aspetos que muitas vezes os marxistas mais desvalorizam é a natureza do contexto de oportunidades no sentido de criar vias de mobilidade social. E neste aspeto Portugal é um país mau, no sentido em que as oportunidades estão muito condicionadas ao teu extrato socioeconómico. E aqui o problema é que na sua maioria os portugueses preferem manter o status quo do que ver um dos seus pares a subir socialmente, principalmente se não for vetado pelo fator popularidade. O que significa que os estão em cima tipicamente criam regras que dificultam a mobilidade social, e aqueles que estão em baixo ativamente desencorajam e sabotam quem tenta subir.

A outra via, é através de um período de ganhos salariais desproporcionais devido a uma falta de pessoas em atividade em relação à procura. Ou à instituição de regras sociais e económicas que manipulam os ganhos de forma a providenciar salários muito acima da média a um grupo. Sem usar o exemplo dos futebolistas de topo, eu aqui posso relatar o período entre 1998 a 2000 em que qualquer um que soubesse programar podia ter um salário elevado, ou receber por projeto valores que nunca mais se viu depois. Na outra situação, podemos falar dos salários dos gestores e administrações de grandes empresas, que como se viu no caso da ex-secretária de estado que esteve na TAP pôde auferir de um salário bem acima da média Portuguesa. E se fizermos uma avaliação racional, percebemos que estes salários nestes níveis de gestão não acontecem normalmente por razões de mercado.

O ultimo caso de possibilidade de enriquecimento pelo trabalho é através do uso do efeito de escala, e do efeito notoriedade. Num mercado grande, um artista, um autor, ou outra profissão onde é possível escalar em termos de resultados em comparação com o esforço realizado, é possível obter ganhos financeiros que são fora da média. Isto pode acontecer quando um escritor consegue negociar adiantamentos volumosos pelo seu histórico de sucessos de vendas. Um actor conseguir um cachet grande por um filme ou campanha de marketing, devido à sua notoriedade e sucesso relativo com o publico. Claro num mercado com a escala portuguesa… É muito mais difícil…

A Natureza Especulativa do Enriquecimento

Como disse anteriormente a tentativa de enriquecimento vem sempre da tentativa de capitalizar numa aposta ou série de apostas. E porque na sua maioria os rendimentos do trabalho são sujeitos a maiores restrições no seu crescimento, é muito mais fácil aumentar ganhos financeiros através da especulação de ativos.

E é relativamente fácil num mercado favorável, comprar uma casa, fazer umas obras, pôr a vender e esperar que alguém compre por um preço lucrativo. A questão está sempre na necessidade de liquidez, na capacidade de aguentar o ativo até atingir o preço esperado, e a duração do período do mercado bom. Sendo que dependendo do nível de alavancagem financeira, qualquer movimento nos juros que vá prejudicar a liquidez de curto prazo pode ser a morte do artista. Pois, para qualquer um que esteja a especular na subida astronómica dos ativos, e que por razão de ter já comprado quando os valores já eram elevados, tem que viver com um risco bastante maior. E pode depender da sorte conseguir-se desembaraçar desses ativos antes que o mercado amargue, e assim não perder tudo no processo.

É também possível alguém simplesmente lucrar com a miséria alheia, e aqui ter capital semente disponível é essencial. Alguém que tenha recursos suficientes e tenha esperado, pode em alguns casos comprar ativos a preços de saldos. Mas aqui também há aspetos que exigem acesso a oportunidades. Pois nem sempre os melhores ativos são expostos, ou a natureza do valor dos ativos exige o conhecimento do mercado.

A Moralidade ou Amoralidade do Enriquecimento

Por qualquer razão o marxismo criou uma espécie de pecado original no enriquecimento, algo que me parece ser quase de génese católica, e assume que essa riqueza necessariamente vem do abuso de poder. Eu pessoalmente, acho que o poder seja em que forma for tende a deturpar a mente e a exagerar a nossa auto-perceção de valor. Muitos de nós caímos num pecado muito maior de achar que o privilégio de ter essa forma de poder é um direito adquirido. E que por essa razão outros merecem uma menor humanidade.

O facto é que conseguir enriquecer do zero é extraordinariamente difícil, e depende de condições muito especiais e alguma sorte. E é muito mais fácil conseguir gerar muito dinheiro quando existe riqueza inter-geracional que catapulta o processo. Para mais, pessoas que queiram ter uma vida normal têm uma grande dificuldade em conseguir massa critica financeira. Pois as exigências sociais e famíliares vão pôr as energias em outra direção, o que significa que apenas em situações pontuais tal é possível.

A outra coisa que eu não falei foi o enriquecimento por aproveitamento do trabalho alheio, que devo dizer que acontece muito, mas quis centrar-me principalmente no como chegar a rico. Que normalmente é parte mais difícil, porque uma vez obtendo recursos suficientes. Fazer os outros trabalhar para nós é bem mais fácil. E derivado muitas vezes das vantagens em termos de informação, enquadramentos legais e poder negocial é possível extrair dos trabalhadores condições mais favoráveis.

E para terminar, é verdade que muita boa gente enriqueceu a fazer coisas pouco éticas, e em alguns caso amorais, e até provavelmente ilegais. Mas cada caso é um caso, não devemos à partida assumir que uma pessoa pela sua riqueza seja uma espécie de entidade divina com o dom da verdade, e por isso com direito a todo tipo de bajulação. Ou no outro extremo que são criaturas desprezíveis que roubam o pão às criancinhas. Dentro deste espectro de variação há muitas pessoas que poderão ser categorizadas. Mas na maioria dos casos, são pessoas que acima de tudo estão a pensar nos seus próprios interesses. E que por via de terem mais recursos têm mais capacidade de os impor.

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Economia, Economy, Politics, Portugal, Rambling, Rant

Manuel Pinho o Bode Expiatório dos Negócios das Rendas Excessivas

Venho por este meio exprimir a minha estranheza em relação à situação de Manuel Pinho, pessoa pela qual não tenho qualquer simpatia pessoal ou política. Mas que aparentemente parece ser a única pessoa de monta a ser alvo do sistema de justiça, por causa de um conjunto de contractos que foram bastante favoráveis à EDP. No entanto as instituições que beneficiaram destes contractos não aparecem nos media em relação ao andamento das investigações.

Acho estranho, que se Manuel Pinho se encontra sujeito a medidas de coação, prisão domiciliária e penhora e arresto de bens e rendimentos. Mas que as instituições, que alegadamente beneficiaram da sua alegada influencia na escritura dos alegados rendimentos excessivos, que não tenham tido até agora sido alvo do sistema judicial com a mesma resposta pronta. E a questão que se põe é: qual é o patamar ao qual um cidadão ou instituição pode ser responsabilizado em termos civis e criminais pela sua participação num negócio que cause dolo e prejuízo ao Estado.

Não estando completamente a par da evolução do caso, e sendo que Manuel Pinho é também indiciado de fuga de capitais e fuga ao fisco, é possível que as medidas de coação estejam ligadas a estes elementos do caso contra ele. E não necessariamente aos aspetos ligados à sua atuação enquanto responsável num governo da republica. Porque se os últimos aspetos foram dados como provados, então a questão é como pode existir um ovo sem uma galinha.

A questão fundamental é até que ponto Manuel Pinho é um alvo fácil, em larga medida ao facto de ter mantido um perfil muito pouco discreto. Que levava um estilo de vida que provavelmente fez levantar alguns sobrolhos e que atiçou algumas invejas. E porque em larga medida perdeu o seu protetor, o que o deixou vulnerável à eventualidade de ser apanhado nas malhas da justiça.

O Espírito Santo Abafa e Protege

Manuel Pinho não foi o primeiro nem o ultimo a ser favorecido e protegido pelas ligações ao Grupo Espírito Santo. O modelo de negócio deste grupo empresarial assentava acima de tudo no tráfico de influencias e em jogos de bastidores. Mais do que a sua habilidade e engenho empresarial. E devido à natureza algo feudal da sua gestão, problemas sistémicos de controlo financeiro e de governança, uma boa parte das empresas do grupo perdia dinheiro.

No entanto, para poder maquilhar as contas e manter a liquidez do grupo foi providencial garantir posições acionistas em grandes empresas que podiam servir de fontes de cashflow para o grupo. Nomeadamente usando o braço financeiro do grupo, o BES, o que ajudava a criar instrumentos financeiros que permitiriam transferir dinheiro entre as várias peças do puzzle. Isto não era só feito com títulos obrigacionistas do grupo E.S., mas também através da estruturação de negócios que iriam ser financiados pelo BES. Ou através de produtos financeiros ao qual o BES iria obter comissões financeiras.

Mas para estes negócios serem possíveis era necessário ter as pessoas certas nos lugares certos, e isto não era só conseguir nomear administradores para as empresas participadas que fossem a voz do chefe. Mas também criar uma rede de favores que facilitavam a ação do grupo e a remoção de empecilhos e obstáculos. E para este efeito o grupo E.S. tinha por costume contratar para cargos interessantes vários quadros políticos dos partidos do sistema. O que apesar de não indicar necessariamente que as pessoas participaram em atividades que tenham causado dolo, ou feito algo ilegal, tem no entanto um objetivo bastante premeditado.

Quando uma grande instituição com negócios com o Estado contrata ex-ministros, ex-secretários de estado, e diversas pessoas que tiveram cargos políticos, o interesse é ter a lista de contactos destas pessoas. É ter uma pessoa que possa fazer um telefonema, ter um almoço ou jantar, ter uma conversa de amigos. Para que mensagens importantes sejam passadas pela hierarquia do Estado e dos partidos. Isto tanto ao nível de decisões no gabinete do primeiro ministro, mas também das secretarias de estado e dos reguladores. Onde conhecer quem conhece, e saber quem está a fazer o quê, e quem tem que ser alvo de uma conversa, e quem tem que ser removido, é crucial.

Em troca o grupo dava proteção ao elementos que o apoiavam no terreno, e pode-se dizer que os recompensava de forma bastante generosa. Sendo que nunca se deve subestimar o nível proteção que este patamar de influencia política e financeira pode providenciar.

A Crise Financeira o Grande Desmancha Prazeres

Não fosse a crise iniciada em 2008 com a queda do Lehman Brothers, e as crises seguintes geradas pelos problemas nas dividas soberanas, o G.E.S. teria provavelmente conseguido aguentar-se por mais umas décadas. Mas infelizmente a estrutura altamente alavancada e má gestão dos negócios não financeiros do grupo criaram problemas que obrigaram a medidas cada vez mais desesperadas.

À medida que os elementos de esquema ponzi do grupo ameaçavam levar o grupo à ruína, os negócios do braço financeiro tornaram-se mais arriscados e descarados. No sentido em que poderiam a seu tempo originar situações de risco legal e criminal. É neste período que o patriarca do G.E.S. faz mais lobbying para a construção de mais infraestruturas, em que a PT começa a comprar mais títulos do G.E.S., entre outras. E neste grande saco os contratos de rendas são uma peça importante para manter a liquidez de curto prazo do grupo.

Tem que se dizer que não foi apenas o G.E.S: que beneficiou deste tipo de contratos, parece-me que durante um certo período de tempo houve caça livre a este tipo de contratos. E não estou convencido que a torneira tenha sido fechada a este tipo de situações.

A queda do BES e do grupo E.S. destruiu o elemento essencial que garantia a fluidez na transferência de influencias entre o sector empresarial e o sector político. Isto não levou de todo que a influencia de certos grupos de pessoas se tenha desvanecido. Que foi no fundo um processo lento, e de erosão, a cada pessoa que saia do partido, a cada pessoa que ficava desligada do grupo pois já o seu rendimento vinha de outra fonte. E aos poucos, as pessoas que se consideravam intocáveis começaram a ser alvo da justiça.

Será que Haverá uma Conclusão?

É um facto que o Estado nos últimos vinte anos assinou contratos e fez negócios que em termos financeiros foram maus para o País. É duvidoso que dar garantias de lucro a privados seja algo bom em termos de finanças publicas, e para mais que estas empresas são em alguns casos praticamente monopólios. E que têm ativos suficientes para encaixar riscos financeiros dentro do razoável.

O que se verificou foi que estes contratos foram uma forma de transferir dinheiro dos contribuintes para interesses privados, ou em alguns casos instituições estatais de outros países. Com a agravante de os administradores destas empresas terem fortes incentivos para espremer o máximo de lucro possível para transferir aos acionistas.

Eu tenho dificuldade em ver que os elementos institucionais que participaram neste tipo de negócios sejam alguma vez responsabilizados e tenham que devolver os ganhos que forem considerados excessivos. Primeiro porque ao contrário de um cidadão, o Estado muito dificilmente vai prender, penhorar ou arrestar bens de uma grande instituição que tem bastantes recursos para contratar bons advogados e tem acionistas com influencia. E que alguns casos podem ter um peso sistémico bastante grande na economia nacional.

O que significa que neste caso se houver alguém que transite em julgado e tenha que responder pelo o que aconteceu, temo que sejam aqueles indivíduos que tenham poucos amigos.

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Economy, Energia, Politics, Rambling, Rant

How to Screw-Up an Energy Transition

European governments have been for the last ten years talking a good game when it comes to the green transition, but the latest events have demonstrated that talking and doing are two very different realities. And now those same governments see themselves rushing to avoid an impending disaster of their own making. And as such we are currently seeing the results of energy policies that were made with large portions of heroic assumptions, like:

  • The main suppliers are reliable and stable, and would never take advantage of their position.
  • Natural gas consumption could be increased without triggering market price increases in the long run.
  • Carbon pricing could be pushed by taxing in the most regressive ways without pushback from populations.
  • Investment on renewables could be done in a relaxed rate or in ways that are wasteful for mostly political purposes.

The weaknesses of the energy policies favoured by most EU elites were already becoming evident once the post pandemic after effects started to be felt. The provisioning of natural gas was impacted by volatility on the demand side due to lockdowns and the economy restarting. And also the early phasing out of a number of coal and nuclear plants would increase gas demand for electricity generation. So, in general it was becoming evident that 2022 would be a challenging year in terms of managing supply and demand in the energy markets. But then things got a lot worse when Ukraine got specially operationalized, and all of the sudden natural gas is being used as leverage to obtain strategic gains.

In the last months it has become clear that the shocks of dealing with climate change, a war in Ukraine, and increased geopolitical competition have ended the period of business as usual in the sort of market oriented group of people that make-up the rules. And there are hints that the environment will become more challenging in the near future, so everyone it is better to strap-on cause it will be a bumpy ride.

Living In the Bubble of Their Own Propaganda

One of the key aspects of EU policy is the wrapping of each of these Über grandiose ideas and principles, like polluter payer, market competition, environment sustainability and so on. These sometimes lofty ideals expressed often in poetical forms of bureaucratic language have a knack of being implemented in regulations that sometimes are contradictory with social and economic realities on the ground.

The first problem arises from the fact that European countries aren’t all alike, there are large asymmetries in capabilities, capital availability, institutional capacity and government effectiveness. There are also some divergence in values and the extent to and of who are the main beneficiaries of the State. This results in that at the country level the EU policies might actually backfire and be used to legitimize bad policies that will only benefit a small number of stakeholders.

One example of this are taxes on fuels, initially these were scoped within the need for increased revenue for the State, either with the justification that will fund road infrastructure building and maintenance or not. But increasingly the justification for such taxation increases is given under environmental reasons and the need for the green transition. This is very well and good if you belong to the middle or upper middle class and haven’t seen your income stagnant or decreasing in the last two decades. Monsieur Macron had the good luck of this reality check when the yellow vests movement suddenly appeared after the announcement of extra taxation on diesel and gasoline.

In this context, the reality is that often those that create the policies often don’t have to suffer from their consequences or even benefit economically from them. This also increases the elements that allow for political subjectivity, where policies that make little overall sense are pushed anyway. An example of this is the rapid phasing out of nuclear power plants in Germany without a clear investment plan for having equivalent replacements in place. At the same time while adding renewables that cannot offer the same operational profile and that cannot offer the same supply reliability as the phased out power plants.

The other aspect supporting these partial policies was that private natural gas power generators were springing up almost everywhere and making up for the phased out infrastructure, and the unpredictable output of the renewable sources. This allowed for better figures on carbon emissions, and allowed for energy policies that failed to integrate and balance the supply of energy given predictable risks and market price spikes. This wasn’t only meant to be the stopgap it was the de-facto solution in the politicians minds.

Even the conversation about renewable sources has in many cases a veil of hypocrisy, with some governments sometimes creating regulatory difficulties and delaying important projects. While others using these as a form of operating rent extraction schemes. Instead of building an integrated network of renewables with storage systems. Which would mean changing the way electricity grids operate, and take more risks in terms of storage technologies, that are currently still being trialled and developed.

For all of this and more, most European decision makers were very much unconcerned with the nitty gritty details of energy policy, and so often more concerned in getting some nice numbers, either in carbon emissions or in total renewable generation built, to impress some EU bureaucrat or the press. Or in other cases, to favour some economic groups or some sort opportunistic business deal that can make for oneself a lot of money.

One of the aspects that has made the situation get out of hand in terms of pricing it has been the way the energy markets were framed and regulated in the EU. Most of the energy market liberalization that was implemented in the EU has as inspiration the Thatcher’s liberalization of the UK market. And in that sense it also copied one of the most insidious of its aspects: the rent seeking pricing model. In the case of the EU electricity markets it means that the most expensive and marginal electricity source will be the price maker. Which in this case it will be natural gas and this will result in every other electricity producer to enjoy a much higher price than it would if their output was negotiated in separate.

So instead of the total electricity price provided to the market being that of the average of the energy mix, with the higher volume sources having a bigger share of the pricing. We have a system that rewards adding expensive and extremely price volatile energy sources. Since energy companies can easily pass the prices to the consumers, which gives them extra incentives to increase natural gas consumption and to avoid investing more in renewable sources and energy storage systems. In a sense market liberalization of the electricity markets has allowed rent seeking institutions to piggyback on these structural companies and in some cases cause damage to the host economies.

Ruses, Distractions and Dead ends

Energy is big business, like it or not, this means that there are usually a lot economic groups interested in carving out a profitable space or a monopoly. It is also a very regulated space, which in some cases leads to balanced energy markets, but in others leads to open rent extraction. This creates a lot of to and fro between the regulator and the energy companies, which can lead to policies that benefit a certain group of players instead of others. Which as it was referenced earlier, means that there are often incentives to do things that are contradictory with official statements of energy policy. And also, that there are often statements that gain traction that are misleading or even blatant lies.

One of the most commonly misleading remarks is that the energy transition will be expensive, well… Any transition will have costs, but we already have done energy transitions in the past. In the early 1970s Western Europe used oil for generating over 70% of its electricity needs. And, there was these things called “Oil Shocks” in the early and late seventies, that made oil very expensive, and caused energy scarcity for a time. Now… We don’t use oil for electricity generation any more, we have diversified. From Nuclear to Coal, Hydro and other sources like natural gas. So why is the green transition really that bad, when we changed our energy mix in a decade after the “Oil Shocks”.

The problem is not on the greener alternatives but in other aspects that regard to economic incentives by established players that would have to face the loss of value of their current assets. If you have in your balance sheet a Coal Plant, a gas powered generator, or any of the items within the fossil fuel supply chain and electricity generation, of course you aren’t happy with more renewable energy getting into the grid. And more unhappy you are if some of these renewable sources, depending on the geographic conditions, have a price point even lower than that of coal.

The other impact of renewable sources is their rather inflexible generation profile that doesn’t fit well the usual energy demand profile. This means that in some days and / or periods of the day, renewable sources can generate in excess and take out all other suppliers from the grid. While in other days or periods of the day, renewable sources might not have any input to the grid. This creates a big challenge for operators of particular types of electricity generation plants, in the case of coal plants it completely destroys their economic model of operation. Since these cannot be started and stopped on a whim, generating and maintaining steam pressure to operate the turbines takes time and a lot of coal. While for natural gas operators this meant an open opportunity to profit from this unmatching of supply and demand profiles.

But coming back to the misleading remark that the green transition will be expensive, and in some cases it will be if the country doesn’t have the geographic characteristics that allow for good wind or solar power generation. That one thing that we can do with solar and wind that we cannot do with nuclear or coal, is that we can scale horizontally in time and space. We don’t need to build a complete wind site on a single go, and we can phase construction and investment depending on market conditions. The problem might be with the return on investment expectations of the investors, and how many of these investments are scoped in terms of capital flows.

Another misleading statement is that renewable sources like wind and solar are too intermittent to be usable, and that there are days without wind or not enough sun light. You know an old renewable source that has a similar problem when it doesn’t rain?… Hydro power!… Yes, good old hydro power. If there is no water then there is no electricity. But the difference is that hydro has the advantage that for longer time frames it can produce power because the flow of a river won’t decrease suddenly or it has a large enough reservoir that allows for producing electricity on demand. So, the biggest problem of wind and solar is that it cannot generate on demand, but on availability of its primary sources. Unlike coal, natural gas or hydro when there is a water reservoir.

The other bigger aspect is the grid operators themselves, the current model of managing a grid is that you have a small number of energy inputs and a large number of energy outputs. Put it simply, there are a handful of electrical generators for all of industry and domestic consumers. This makes it relatively easier to manage the transfer of power from a very high voltage electrical grid to each of the sub-nodes that are closer to the end consumer. It is not only managing power output but also frequency, and avoiding spikes that can trigger accidents or disconnections. This type of grid operations is well known and most of the time preferred by grid regulators, but renewable sources cause big problems to this model.

First of all renewable sources like solar and wind are mostly decentralized and are geographically spread out, or distant from consumer markets. That increases the number of input nodes to be managed, and also increases the possibility on non-linearities and disruptions. Plus, the investment in adding extra high voltage connections to transport the electricity to the end users. The other aspect is that the production profiles don’t match the demand profiles, requiring for that some sort of technology to store electricity to timeshift renewable generation to satisfy consumer needs.

The problem with adding electricity storage infrastructure is that it is antithetical to the way electrical generation has been done in the last 100 years. Energy has been usually stored in its primary source, be it coal, oil, natural gas or water in a reservoir, not in a battery with a much lower energy density than a primary source. This not only adds an extra investment need but also a new source of pricing that needs to be factored in. And traditionally energy storage infrastructure has been extremely expensive, like pumped water reservoirs that can cost on the scale of thousands of millions of Euro. At the same time battery technologies still are in the trial stage, and have still to reach the gap of providing power to the grid on the scale of several hours or days.

Understanding the Need For Abundant Energy

One of the key mantras that is becoming a sort of a consensus between energy policy makers, is that energy in the future will be more expensive and with higher risk of blackouts. This is said as renewable sources are getting to the point that they are cheaper than coal, and that their cost is mostly driven by the capital cost than by operating costs. And as renewable sources can be scaled horizontally, meaning that you can add them to the grid over time. Which means one can have better and improved systems, while older systems are gradually phased out on the scale of two or three decades.

In fact the pricing model of renewable sources is in stark contrast with those of coal and natural gas, and with no dependency on commodity trading. No need for transport or storage of bulky or large volume of fossil fuels, the only catch is lack of generation on-demand. That means pricing will need to be intermediated by storage and with base load, no… secured load provided by nuclear, hydro or another source.

On another aspect adaptation to a model of using availability of electrical generation, instead of on-demand, can mean routing energy when it is cheapest for energy intensive industries. This can be generating hydrogen for industrial processes, producing ammonia, and others. Which with other energy sources can improve the economics of carbon free alternatives to established industrial processes.

Also, if greener transition is what is required in the transport sector, then the generation capacity that is needed is probably double or triple of what it is today. Fossil fuels have a very high energy density, which allows for rather compact storage in cars and motorcycles, but its electrical versions will require a similar input of energy to do the same work.

It has to be said that an industrialized society requires plenty of energy, you might think that you can do without it because you eat kale, only buy organic foods, use recycled hemp bags, and align your chakras with crystals made of glass. But in reality your artificially safe world is powered by cheap energy. Without cheap energy modern life isn’t possible, and in fact without it the current population levels would be unsustainable (even in Europe). But energy can be hijacked to be used as a rent extraction tool, given that once a need is established and demand becomes rigid it is easy to leverage volatility in production to obtain higher gains.

The big challenge for the foreseable future in Europe is how to build the energy infrastructure that can provide the energy needs of the continent, decarbonize the economy and allow for the re-industrialization once again. So that supply chains can be closer to home and we can get closer to a truly more sustainable future.

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Produtividade em Portugal, Uma História de Auto-Sabotagem. Uma Visão Macro.

Uma das ladainhas mais comuns dos economistas, confederações patronais e políticos, é que os trabalhadores Portugueses têm que ser mais produtivos se querem ter aumentos de salariais. Isto tem como premissa que os trabalhadores têm o controlo das chaves para o aumento da sua produtividade. E que a maioria está a trabalhar longe do seu potencial, e que precisam de se esforçar mais.

O problema é que o que está sub-entendido não é que eles sejam mais produtivos, o que está sub-entendido é que trabalhem mais horas, que corram mais riscos para fazerem o seu trabalho, que por isso trabalhem em piores condições. E que estejam em disponibilidade total em relação às entidades patronais. A questão que se põe é, qual seria o incentivo que a entidade patronal teria para aumentar os salários se sem os aumentar teria tudo aquilo que queria. Aliás esta linha de argumentação é falaciosa e obscurece os aspetos que são os elementos mais fortes que levam ao aumento de salários. Coisas como:

  • Maior competição pela mão-de-obra disponível.
  • Sindicatos capazes de lutar por acordos de contratação coletiva.
  • Uma economia em crescimento.
  • Legislação laboral que seja eficaz em evitar abusos.

O grande problema é que na sua maioria os economistas, patrões e políticos não sabem o que é a produtividade na pratica do dia-a-dia. Muitos confundem produtividade com o numero de horas trabalhadas e com o excesso de movimento. No fundo acham que o zelo se mede pelo entrar cedo e sair tarde, de fazer mais que um turno ou por se mexer de forma muito energética. Tudo coisas que podem ser simuladas, e que não exigem que alguma coisa seja realmente feita. Do outro lado estas personalidades não entendem que estas coisas que querem forçar, para tentar espremer mais trabalho dos trabalhadores que têm, são na sua maioria contra-producentes.

Uma realidade que escapa a muitas pessoas é que trabalhadores considerados muito produtivos como os Japoneses e Sul-Coreanos, na realidade não o são. Em muitos casos porque as horas que são obrigados a passar no escritório, ou no seu local de trabalho, são para agradar aos seus chefes. A estrutura praticamente feudal da sua cultura de trabalho obriga-os a fazer atividades que nada têm a ver com o negócio, são apenas forma de mostrar lealdade às estruturas hierárquicas. O que acontece, é que as estruturas que são altamente produtivas nestes Países têm a sua produtividade relacionada com outros fatores que pouco têm a ver com a feudalização das relações de trabalho.

Antes do Prato Principal Algumas Considerações

Antes de começar é importante caracterizar os fatores que contribuem ou estão envolvidos na capacidade de um País produzir, e estes são:

  • Força laboral : Quantidade, composição, estrutura e distribuição do tipo de mão-de-obra. E a sua distribuição por sectores de atividade.
  • Capital : O capital investido em forma de equipamentos, infraestruturas e edifícios que são utilizado dentro de um sector de atividade.
  • Contexto
    • Organizacional : A forma como cada sector de atividade está enquadrado em termos organizacionais, e as formas dominantes de organização do trabalho e tipo de entidades empregadoras.
    • Geral : Todos os restantes elementos externos que são necessários para cada sector de atividade. Infraestruturas de transportes, energia, regulamentação, mercados, etc..

Um dos aspetos mais importantes para um sector de atividade ser mais ou menos produtivo é a forma como o investimento de capital em equipamentos pode ou não ser um fator multiplicativo da produtividade. Vamos chamar a isto um fator de escala, e se uma atividade é escalável isso significa que um trabalhador tem um efeito multiplicador proporcional ao capital que foi investido. Por exemplo, um operário na industria do papel tem a sua produtividade condicionada pelo tipo de maquinaria e processo industrial. Sendo que estes não foram escolhidos por ele, mas pelos gestores ou os donos da empresa. O operário pode ser responsável pelo bom funcionamento dos equipamentos e manter o processo dentro dos parâmetros desejáveis. Mas, a sua produtividade está fundamentalmente ligada ao capital investido e ao melhoramento continuo dos processos.

Do outro lado, temos atividades não escaláveis tais como a maioria das atividades de serviços. Que na sua grande maioria estão dependentes do tempo disponível de uma pessoa, e por isso têm um limite na quantidade em que o serviço pode ser proporcionado. Por exemplo, um médico de clínica geral que faz consultas ao publico. E em que cada consulta dura em média 30 minutos, vamos ter que numa jornada de 8 horas vai poder assistir mais ou menos 16 pacientes. Isto, com muitas simplificações porque o número pode ser ainda menor se considerarmos que certos pacientes podem requerer mais atenção.

Serviços não escaláveis como limpezas, hotelaria, medicina, ou cabeleireiros, etc. têm limites para o quais o capital investido pode gerar maior produtividade. Isto torna estes sectores de atividade muito mais expostos à variabilidade individual de produtividade na população ativa. E conforme o nível de sofisticação do sector, o nível de formação e experiência dos trabalhadores e profissionais, isto vai ter feitos na majoração ou minimização da produtividade do sector.

Isto vai significar que em regra geral, os sectores de industria com elevado investimento de capital são mais escaláveis e por isso mais produtivos por trabalhador. E os sectores de serviços com maior intensidade de uso de mão-de-obra e baixa intensidade de capital são menos escaláveis e menos produtivos por trabalhador. O aspeto que pode mudar esta consideração é o valor que estes serviços podem cobrar, e isto tem implicações em termos de contabilidade nacional. Pode parecer piada, mas em termos de produtividade, uma cabeleireira que cobre 50 euros por hora é considerada mais produtiva que uma que cobre 25 euros por hora.

De facto economias com níveis salariais mais elevados e onde os serviços são mais caros este efeito é mais notório. E mesmo que uma cabeleireira Portuguesa por dia sirva mais clientes que uma cabeleireira Belga, segundo os valores cobrados a sua colega Belga é mais produtiva.

Há que se dizer também que nem todos os serviços são pouco escaláveis, de facto alguns tipos de serviços são mega-escaláveis. Estamos a falar de atividades de investigação e desenvolvimento, design de produto, produção de media, etc.. Nestes o efeitos escalabilidade são sentidos porque estas atividades vão resultar num produto que pode ser vendido e distribuído através de processos que são intensivos em capital. Ou como é o caso de aplicações informáticas, várias cópias do mesmo programa podem ser vendidas sem que haja um incremento de custo marginal.

Como Sabotar Uma Economia Em Lições Fáceis de Digerir

Um dos aspetos principais a tirar da secção anterior é que nem todas as atividades contribuem da mesma maneira para a produtividade de um País. Não só os sectores de atividade têm diferentes contribuições, como as diferenças de valor acrescentado que ocorrem dentro dos próprios sectores de atividade resultam na amplificação na contabilidade nacional da produtividade especifica do sector. O que resulta que num País rico com um sector de serviços com salários elevados e preços elevados vai ser considerado como tendo maior produtividade que um País pobre com baixos salários e preços. Isto simplesmente porque as diferenças de preços e salários significam uma maior captura de valor.

Mas para que um sector de serviços possa contribuir para uma maior produtividade tem que existir um sector ou sectores de base que têm um efeito multiplicador intenso no produto nacional. Em alguns países como o Luxemburgo isto pode ser feito através dos serviços bancários e financeiros, em outros países podem ser os sectores industriais de elevado volume ou valor acrescentado. Ou em alguns caso atividades extrativas que têm um elevado excedente. Estes sectores podem empregar uma minoria da população, mas têm um efeito desproporcional porque providenciam bons empregos, com bons salários e que resultam em atividades complementares que criam uma ressonância de produtividade e multiplicação de valor acrescentado que vão aumentar o nível salarial do País inteiro.

Ora… Em Portugal nós temos um grande problema… É que na sua grande maioria as atividades industriais e serviços são de baixo valor acrescentado. Muitas vezes com baixa dimensão, baixa liquidez e baixos salários. Isto não era uma situação inevitável, nem pode-se dizer que não poderíamos ter criado as condições para um desenvolvimento industrial que permitiria suportar níveis salariais maiores. Mas para isso foram importantes uma série de auto-sabotagens que levaram à nossa situação atual.

O Problema das Transições Políticas

Os Portugueses têm uma má tradição de mudanças de regime, principalmente porque na sua maioria essas mudanças de regime resultaram em períodos de confusão e caos social e económico. E em que algumas vezes o regime que era estabelecido era fraco e vacilava entre fações que se degladiavam para obter o seu quinhão dos despojos.

Os regimes depois da monarquia absolutista nunca duraram mais de um século, sendo que os problemas económicos e sociais, e a incapacidade de reformar o sistema para obter novas respostas e vitalidade, levavam por norma ao regime ser destituído sem que os seus beneficiários levantassem um dedo para o defender. Foi assim com a Monarquia Liberal, foi assim com a Primeira Republica, e foi assim com o Estado Novo. O grande problema é que a transição é em geral feita através das armas, através do poder militar e do poder da rua.

O caos gerado mesmo no nome da autoridade e da ordem levava à fuga de capitais, ao desinvestimento e à incerteza. Sem contar com a fuga de pessoas qualificadas por razões de perseguição política. Também há que indicar que em muitos casos as pessoas que ficavam com o acesso ao poder político e poder executivo nem sempre eram as mais qualificadas. Ou as que apresentavam as características para poder executar uma transição política bem sucedida. Ou em muitos casos de poderem resolver os problemas crónicos que tinham gerado a revolução. Por exemplo, os revolucionários de 1926 que terminam com a experiência republicana são completamente incompetentes para lidar com os problemas fiscais do Estado. O que leva a que provavelmente em desespero de causa a virarem-se para Oliveira Salazar para resolver a situação. E este, com grande arte e manobra política, consegue-se posicionar para tomar conta do Estado e ser o poder único e incontestável até um AVC o incapacitar.

Infelizmente, a revolução de Abril não mudou este padrão de comportamento Lusitano. Ao dia 24 de Abril de 1973 o Estado Novo encontrava-se no seu crepúsculo, Marcelo Caetano encontrava-se isolado entre a gerontocracia cristalizada do regime, os liberais burgueses que pretendiam a abertura política, e o grande capital que queria abrir as suas asas e mostrar quem manda. A Marcelo Caetano faltava o jogo de cintura de manobra política, aquilo que tinha permitido a Salazar manter-se no poder e ultrapassar as várias crises de regime. E sendo um conservador por natureza tinha dificuldade em manter a iniciativa política. E por essa razão um golpe de estado estava por uma questão de dias ou meses.

Inicialmente todos os cálculos políticos levavam a que seria um golpe de estado de altas patentes como Generais ou Coronéis, com a provável conivência do grande capital lusitano. Mas talvez por carreirismo, ou por inércia, tal golpe não se veio a concretizar. Não é certo que isto teria sido melhor para o País, pois poderia ter degenerado num governo de junta militar com tendência para se prolongar.

O que veio a acontecer foi um golpe executado por patentes médias, que aproveitando o facto que 90% do contingente militar das forças armadas estar nas colónias ultramarinas. Conseguiu juntar o pouco equipamento e a tropa existente na metrópole nas ruas da capital, de maneira a que muito dificilmente o regime conseguiria responder de uma forma eficaz. Sendo que o Povo, que na sua grande maioria estava cansado do Estado Novo e da Guerra Colonial, apoiou o golpe com alegria. Mas o problema é que não havia um plano para o dia 26 ou o dia 27 de Abril. A revolução conduziu a um vazio de poder, que as altas patentes da junta de salvação nacional não podiam disfarçar. O facto de não haver um plano demonstrou-se na divisão imediata entre fações dentro do movimento das forças armadas.

O caos gerado pela luta política e ideológica, os golpes e os contra-golpes, a torrente de recriminações e represálias, as perseguições, o turbilhar das frustrações e esperanças na rua, criaram um ambiente onde o oportunismo e a crise estavam de mãos dadas. E muito rapidamente, a fuga de capitais, o impacto económico da descolonização nos grandes grupos económicos, e a crise petrolífera e da perda de convertibilidade entre ouro e o dólar, tornou inevitável a nacionalização da Banca e por conseguinte de grande parte das grandes empresas nacionais.

O que se seguiu foi um período de crises monetárias e de balança de pagamentos, falta de estratégia empresarial para as empresas nacionalizadas, o desinvestimento e desindustrialização. Foi a destruição do capital industrial acumulado, ou de forma intencional ou por negligência. Executada por agentes dos partidos políticos, aos quais ou só se interessavam nos bons cargos remunerados, ou como alavanca para demonstrar poder na rua. E aos poucos, os empregos industriais bem remunerados e as regalias sociais que estas empresas ofereciam foram diminuindo com o tempo. Até que no inicio dos anos 80 com mais uma crise de balança de pagamentos que leva à queda do Governo da AD. É seguido pela intervenção do FMI e do governo de austeridade do bloco central. E esta foi a machadada final aos restos da industrialização pré-revolução de Abril.

Para aqueles que se lembram, este foi um período extremamente difícil. Com salários em atraso, fome e desemprego. Um período onde as esperanças e sonhos da revolução encontraram-se com a realidade desagradável do esgotar do capital produtivo acumulado e da má gestão económica. Deste momento em diante, a grande maioria da industria mantém-se dentro de dimensões relativamente pequenas, voltando em muitos casos a exibir padrões similares ao do período liberal e da primeira republica. Sendo que a destruição da capacidade industrial de grande escala tornou mais difícil a existência de empregos de alta produtividade e de boa remuneração em Portugal.

Educação, Uma Lição em Inconsistência Estratégica

A extensão do atraso educativo Português não se mede apenas pelo continuidade da prevalência do analfabetismo, mas também pelo atraso da expansão do ensino secundário e universitário. Sendo que no inicio do regime democrático a taxa de analfabetismo rondava os 25%, algo que se podia considerar um obstáculo ao rápido desenvolvimento da economia Nacional.

O período democrático viu o acabar dos ensinos secundários industriais e comerciais, em favor de um modelo igualitário liceal. Viu uma expansão do ensino secundário e universitário para tentar acompanhar a explosão de alunos da geração da década de setenta. O destruir do sistema de ensino vocacional tornou o ensino superior a via única de acesso a um emprego qualificado, algo que varias décadas depois teve que ser corrigido.

O crescimento do sistema educativo foi acompanhado por uma certa desorganização e falta de recursos. Pois era comum em escolas construídas à pressa, haver faltas de professores, equipamentos e estruturas. Tais como, ginásios, balneários, fotocopiadoras, papel, etc.. Ao mesmo tempo a administração escolar passou a ser hiper-centralizada, longe estava a figura do diretor de escola com autonomia administrativa. O ministério da educação passava a gerir os mais pequenos aspetos das instituições escolares até ao nível do secundário.

A educação durante os sucessivos governos democráticos é uma lição como não se devia fazer uma política de desenvolvimento económico. E isso é claramente aparente na dissonância no que é o discurso publico sobre a importância da melhoria das qualificações e o que realmente é implementado no terreno. Aliás, em muitos casos o que é mais aparente é que as questões orçamentais e políticas têm mais importância no que é implementado do que qualquer estratégia de desenvolvimento económico.

Em primeiro lugar o que é aparente é um esforço em limitar o numero de alunos que tem acesso ao ensino superior publico. E isto é óbvio no caso da PGA, um suposto exame de cultura geral, interpretação e escrita critica que não resultou em nada. Para além de criar a necessidade para mais um exame de utilidade dúbia, e que cuja leitura nas entre-linhas é que os candidatos ao ensino superior tinham que ser filtrados pelo seu nível cultural e de expressão escrita.

O outro ponto dentro do mesmo período governativo é a introdução das propinas no ensino superior, sobre o pretexto da justiça social e necessidade das instituições de ensino superior terem meios próprios de financiamento. Aqui o problema é claro, no sentido que ia criar dificuldades a alunos de extratos sociais mais pobres. O esquema das propinas serem ou não cobradas conforme a declaração de IRS foi chumbada por alunos ativistas na sua maioria de esquerda. E que por ironia estavam muitas vezes isentos de pagar, ou pelo historial militar dos seus pais ou outras razões. O resultado foi todos pagarem.

Um aspeto que é de referenciar também é o fetichismo pelo rigor dos exames, muito pelo facto dos luminários das instituições académicas acharem que os alunos do secundário devem ter a disciplina de alunos universitários veteranos. E por isso terem a lição toda estudada, o que implica que os ditos luminários só têm o trabalho de despejar os conhecimentos que eles acham importantes. Mas nada que é curricularmente trivial e pouco interessante. O que resulta muitas vezes em pressões para reformas educativas que tipicamente falham em produzir resultados e adicionam ainda mais carga letiva aos alunos do secundário.

Em contrapartida, a burocracia do ministério da educação trabalha incansavelmente para atingir números e para criar escolas cada vez maiores. Que são cada vez mais difíceis de gerir, e que cada vez têm mais responsabilidades no sentido de serem os ATLs por defeito da grande maioria da população que trabalha. Esta burocracia vive no seu próprio mundo, entre teorias pedagógicas, objetivos políticos, carreiras profissionais, a sua legitimidade e influência. É um sistema permeável aos desmandos e medidas avulsas dos ministros, mas que ao nível do que é importante como a organização das escolas e dos currículos tem por natureza sido pouco sensível a mudanças corretivas.

Por mais supostas paixões pela educação o facto é que o sistema tem dificuldades em tomar medidas corretivas de forma evolutiva. Existe demasiada tendência para medidas avulsas e sem continuidade, e uma tentação de agentes políticos e académicos de imporem reformas que causam descontinuidades. E que são muitas vezes desfeitas pelo ministro que se segue ou o governo de uma outra cor política. O sistema tem claros problemas de organização, tratando mal tanto a grande maioria dos professores quanto os seus alunos. Os primeiros porque obriga a vários anos de contractos sem estabilidade e colocação geográfica duvidosa antes de entrar nos quadros, ao excesso de trabalho administrativo adicional por quid pro quo entre os sindicatos e os governos para obterem aumentos salariais. Aos alunos, a quantidade brutal de horas letivas, e excesso de disciplinas lecionadas, horários escolares mal estruturados e escolas em más condições.

O outro problema, é que ao mesmo tempo que os sistema regurgita resultados inconsistentes. Onde a taxa de alunos que desiste do ensino obrigatório é uma das mais elevadas na UE (apesar das melhorias quantitativas em relação ao período de 1995 a 2009), e que cada vez mais cresce em termos de alunos colocados no ensino superior. Mas, onde tecido empresarial têm grande dificuldade em integrar as pessoas que saiem das escolas e instituições de ensino superior e profissional.

Um Sector Privado Sem Liquidez Nem Ideias

O sector privado empresarial Português sempre teve um grande problema em criar empresas com escala e dimensão para competir não só no mercado nacional como no mercados europeus e por esse mundo fora. E essa dificuldade é tanto maior conforme o mercado é mais avançado e sofisticado, o que resulta num foco em mercados que têm características mais sui generis e onde o risco é maior, tal como Venezuela, Angola, entre outros.

Não que isto seja a realidade de todo o sector empresarial, em sectores mais tradicionais como o calçado tem sido surpreendente a capacidade das empresas conseguirem manter competitividade nos mercados Internacionais. Isto apesar do governo português ter posto na gaveta o relatório Porter sobre competitividade e clusters na economia Portuguesa. O facto deste luminário da gestão ter dito o óbvio às elites Portuguesas não foi mais que um balde água fria nos seus sonhos de desenvolvimento de altas tecnologias. Que na realidade estavam fundamentados em nada. Porque na realidade a maioria dos esforços no sentido de localizar empresas estrangeiras de tecnologias de ponta revelaram-se ineficazes. Pois aqueles que tinham acesso aos apoios muitas vezes tinham horizontes muito limitados e queriam fazer o cash-out o mais rápido possível.

Voltando ao espaço nacional, as empresas Portuguesas sofrem de alguns problemas crónicos que dificultam a melhoria incremental da sua situação. Um dos maiores tem a ver com falta de liquidez de curto prazo e dificuldade de financiamento das operações. Este aspeto é o que cria os maiores constrangimentos, gerando uma dependência enorme da banca e do sector financeiro. Obrigando as empresas a desviar recursos para pagar juros de financiamento de tesouraria que vão cortar as margens. Que em muitos casos já são curtas, devido em grande medida ao aparecimento de múltiplos concorrentes em cada vão de escada.

A historia do sector empresarial Português está repleta de situações de crescimento em número disparatado de empresas em sectores onde vai existindo alguma liquidez. Isto vai desde os vídeo clubes, a empresas no sector têxtil, até consultorias de Tecnologias de Informação. O que normalmente cria situações de competição selvagem, falta de liquidez, e em vários casos à falta de ética para poder sobreviver. O resultado muitas vezes é que para um número tão grande de empresas estar a sobreviver num sector sem que haja consolidação vai significar que mais tarde ou mais cedo todo o sector vai entrar em colapso.

Muitas vezes o resultado deste colapso não é uma reorganização e consolidação, mas o desaparecimento de várias entidades empresariais e o aparecimentos novas empresas no sector. Que na sua maioria repetem o mesmo panorama de baixa dimensão, baixa liquidez, margens reduzidas e instabilidade financeira.

O problema da baixa liquidez cria uma situação de impossibilidade de pensar em termos estratégicos. Visto que é muito difícil tomar um risco com um novo investimento em capital num novo equipamento ou modo operação, se há uma grande probabilidade de não haver dinheiro antes que o investimento produza frutos. Isto já de si acentua uma tendência antiga Lusitana de evitar investimentos que exijam esforço e tempo para aprender. Não é por nada que são Espanhóis que compram terrenos no Alentejo para criar olivais de exploração intensiva para a exportação de Azeite, em teoria um Português poderia fazer o mesmo.

A outra razão dos problemas de liquidez para além da excessiva concorrência, está nas assimetrias de poder de mercado. Em Portugal é comum haverem grandes operadores, que ou sendo intermediários, grandes retalhistas, empresas dominantes de um sector ou o Estado, que agem como grandes clientes. Estes grandes clientes normalmente dão o mote à forma como o mercado vai operar. Tipicamente usando o seu poder de mercado para atrasar pagamentos, exigir descontos, e para jogar fornecedores uns contra os outros. O resultado é que em muitos casos o processo de atraso de pagamentos é contagioso, e resulta numa normalização da prática no mercado nacional. O que eu chamaria, um verdadeiro tiro nos pés da produtividade.

À falta de liquidez conjuga-se o excessivo conservadorismo do empresariado Português. Que nem os artigos de marketing escritos na melhor linguagem pós-moderna, carregados de palavras como: novos conceitos, inovação, tecnologia de ponta, entre muitas outras. Mas que só fazem é esconder com pomposidade o atraso em termos organizacionais da grande maioria das empresas. E o que muitas vezes acontece por detrás do teatro, são praticas de trabalho que dificultam o aproveitamento do potencial dos trabalhadores.

Eu posso dizer, que há bastantes trabalhadores em Portugal que são bastante capazes e com ideias muito boas. O grande problema começa e acaba na politiquice organizacional, e dificuldade das chefias em abrir o jogo, e a tradição de que o chefe é que sabe. Eu destaco aqui acima de tudo o problema da politiquice organizacional, visto que aqui a responsabilidade não é só das chefias mas também de funcionários. Haveria grande desenvolvimento em Portugal se as pessoas soubessem ser melhor comportadas umas com as outras e mais solidárias. Em vez de se envolverem em intrigas e situações de assédio moral, que infelizmente no panorama português estão demasiado normalizadas.

O outro aspeto do conservadorismo empresarial, é que leva muitas vezes a adiar investimentos que são necessários para a melhoria de processos e produtividade. E em vez disso, espremer o capital instalado e a força de trabalho existente. Isto, enquanto as administrações discutem quando e como a nova frota de carros de topo de gama adquiridos em regime de ALD vão ser distribuídos aos diretores. O resultado é muitas vezes que o investimento é feito de forma inconsistente quando o atraso começa tornar-se demasiado evidente. Ou em ações improvisadas que visam espremer ainda mais a força de trabalho, na esperança que seja ainda possível mugir alguma liquidez que salve a situação.

Tudo isto cria um ambiente onde é difícil aproveitar o incremento de qualificações da população Portuguesa. Para o fazer é necessário ter organizações que tenham capacidade de investir no futuro, onde haja espaço para a mobilidade social, estabilidade financeira e económica, e que as regras sejam justas com todos.

Contexto, Infraestruturas e o Papel do Estado

Historicamente o Estado Português tem sido a entidade que em território nacional tem tido os recursos e a continuidade para poder planear e afetar mudanças de médio e longo prazo. E por regra é a primeira entidade que normalmente os interesses privados do momento tentam cooptar, ou capturar. Para assim poderem minimizar o risco dos seus negócios ou garantir a sua rentabilidade. Muitas vezes isto é feito através manobras políticas, outras vezes por captura administrativa, outras por bloqueio da ação do Estado e dos seus agentes. Em alguns casos isto revelou-se em atrasos na construção de infraestruturas essenciais, como o porto de Leixões, o novo aeroporto de Lisboa, etc.. Ou então em deixar incompletos certos investimentos, ou por negligencia ou por desígnio.

O facto é que em Portugal o Estado é única entidade com o poder para poder condicionar os agentes privados e para planear no sentido de um maior desenvolvimento económico que possa trazer frutos para a toda a população. Mas o que temos é que os Estado age de duas maneiras, ambas contra-producentes e que acentuam os desequilíbrios existentes. E a primeira é promover a fragmentação dos mercados, isto é feito não só por um certo laissez-faire, mas acima de tudo pela falta de controlo de agentes de mercado com excesso de poder de mercado e evitar promover a consolidação de empresas. Isto resulta num mercado canibalistico em que existe um número demasiado elevado de competidores, na sua maioria estão descapitalizados e alavancados, e com um baixo nível de diferenciação. O resultado é que estas pequenas e médias empresas ficam expostas ao risco de excessiva intermediação ou de atores com excesso de poder de mercado que vão comer ainda mais as suas margens.

O segundo aspeto é o estabelecer de estruturas e instituições extrativas, como monopólios ou modelos de negócio baseados em extração de rendas. No sentido de favorecer interesses que capturaram o Estado e manter uma determinada ordem social. Infelizmente o Estado Português tem uma grande tradição de criar este tipo instituições, e instituições essas que tipicamente prolongam as desigualdades sociais. Mais recente aparecimento destas instituições extrativas aparece pela privatização in-extremis de empresas publicas que são monopólios ou dominantes no mercado Português. O que garante em muitos casos a baixa da qualidade dos serviços e o aumento do preços. Outro exemplo é a implementação das estruturas para produzir energia via renováveis, que em muitos casos garantiam rentabilidades de capital muito acima do necessário e que passam os custos ao consumidor via o preço da eletricidade ou via o suposto défice tarifário.

O resultado das ações e da inações do Estado é um sistema pouco favorável ao investimento produtivo, que permite a certos atores uma liberdade quase total de fazerem o que querem e bem entendem (em que alguns chegaram ao ponto de se acharem donos disto tudo e enquanto se promoviam como arautos do desenvolvimento, quando não mais eram mais que cabecilhas de um esquema ponzi que tirava dinheiro de um lado para por em outro). E em que o regulador está na mesma cama com o regulado, e onde o acesso é controlado e restringido. Do outro lado, o Estado tem um modelo de regulamentação da sociedade extremamente prescritivo, e com tendência para criar regras bizantinas e extremamente complexas. E por hábito implementadas via um sem numero de entidades do Estado, cada uma adicionando o seu nível de complexidade.

Se uma coisa é certa em Portugal é que as regras do jogo nunca são simples e diretas, que os árbitros nem sempre são neutros, ou que haja a intenção de se fazer o que quer que seja. O que implica que para navegar neste mar de regras o sistema está dependente da boa vontade de atores dentro das várias instituições do poder Central ao poder Local. Isto cria um clima que infelizmente favorece as tentativas de corrupção, o favorecimento indevido, e a fuga às regras. Talvez aqui resida muita da dificuldade em captar investimento estrangeiro, e porque muitas multi-nacionais preferem estabelecer ou centralizar operações em Espanha.

Apesar das elites, dos ministros e políticos na sua generalidade, promoverem os baixos salários para apelarem ao investimento estrangeiro. Esquecem-se que criaram um contexto de custos elevados, seja pelas regras de licenciamento, pela energia elétrica cara, ou pelo inferno que é ter que ir à uma secretaria de serviços do Estado para fazer o que seja. Ao mesmo tempo que se esqueceram de criar uma infraestrutura integrada de transporte que funcionasse como o turbo da economia. Em vez disso carregaram na opção cara das Auto-Estradas, que não foram mais que uma forma de criar mais frentes de crescimento urbano desregulado. E onde a grande maioria das entidades de ensino superior estão completamente divorciadas do sector empresarial.

Em Conclusão…

A baixa produtividade em Portugal do ponto vista macro é o resultado de um ciclo vicioso entre várias instituições. E por uma grande vontade em não mudar hábitos ou aprender com os falhanços. Parece que cada grupo está mais interessado em manter o seu estatuto relativo nem que seja à custa da grande maioria da população Portuguesa. E a continuar neste caminho não podemos esperar que coisas boas aconteçam, e também não podemos esperar que UE e a cornucópia dos fundos Europeus resolva o que quer que seja sem que haja capacidade do lado de cá para utilizar estes de forma positiva. Mas a continuar este caminho podemos esperar o colapso de instituições, e até de direitos e liberdades em nome de uma ilusiva esperança de segurança económica.

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Portugal, Demografia e Desenvolvimento Económico, ou a Crónica de uma Tragicomédia Anunciada

Durante o ano de 2022 tem sido frequente a publicação de noticias descrevendo a falta de pessoas para preencher as vagas existentes num mais variado leque de sectores. Que vão da restauração, hotelaria, construção civil, à falta de professores no ensino publico, e até à falta de médicos e enfermeiros. E dados os problemas agudos de mão-de-obra as confederações patronais estão a ser bastante vocais no sentido do Governo criar políticas para facilitar a entrada de imigrantes para suprir necessidades urgentes.

Ao mesmo tempo, há cada vez mais Portugueses a sair de Portugal para trabalharem em Países da UE que oferecem melhores condições de trabalho. Infelizmente, devido ao atraso do INE em publicar dados atualizados sobre a emigração. E também porque nem sempre todos os que vão trabalhar para fora fazem-no de uma forma permanente, não há uma imagem nítida sobre qual é a percentagem da população ativa Portuguesa que votou com os pés em relação ao patronato Português.

Mas ao mesmo tempo esta situação que se vive não era algo que não fosse previsível dada a integração Europeia e a evolução demográfica nacional, mesmo que estas alterações de comportamentos venham com algum atraso. Que é decorrente da forma de pensar altamente conservadora e da aversão ao risco da generalidade da população Portuguesa. Algo que os patrões e os poderes instituídos têm recorrido para manter uma política de baixos salários, crescente precariedade e más condições de trabalho. Mas se houve algo que acordou os Portugueses da sua aversão ao risco foram as crises, em 2010 com a Troika e com a Pandemia em 2020.

Eu posso verificar de forma anedótica, ao ver cada vez mais Portugueses na construção civil, mais enfermeiras e outros profissionais a trabalhar na cidade onde resido. Para alguns vejo que é uma transformação enorme, e que a nova estabilidade económica muitas vezes leva as pessoas a começar uma família e planear para outros horizontes. E muitas vezes quem prova esta estabilidade e melhoria de nível de vida não vai querer voltar para as condições em que estava.

Mas como chegamos a este ponto?…

Portugal, A Evolução de Uma Geografia Humana

Um dos aspetos históricos que condicionou o desenvolvimento económico e humano em Portugal foi a forma como a propriedade agrícola foi estruturada durante a reconquista. E que em muitos aspetos apesar das mudanças de sistemas políticos, manteve os mesmos padrões geográficos. Sendo que o Litoral Norte que é a uma das zonas agrícolas mais produtivas, com uma grande densidade de pequenas propriedades. E há medida que se desce para Sul as propriedades começam a estar concentradas num cada vez menor número de proprietários.

Ao mesmo tempo o facto de não existirem rios navegáveis que pudessem criar centros urbanos importantes no interior de Portugal, significou que os poderes ligados à exploração da terra estariam pouco interessados no comércio ou em qualquer tipo de industria. Desde que pudessem obter rendas, e escoar os produtos agrícolas através de redes de intermediários.

Em relação à população, as políticas que eram favorecidas por estes proprietários rurais na sua maioria visavam estancar a migração para as cidades, e fixar a mão-de-obra nas suas áreas. Uma vez que a agricultura praticada era intensiva em mão-de-obra e havia pouco interesse em investir capital na sua modernização. E de facto a grande modernização da agricultura Portuguesa só acontece depois do Pós-Guerra.

À estagnação económica e vida difícil no interior rural, contrastam as promessas cíclicas de riquezas e de uma vida melhor além mar. Do período do comércio das especiarias até à febre do ouro do Brasil, das migrações para o Brasil e mais tarde para a Europa, o resultado era ciclicamente um esvaziamento de algumas zonas do País. O que levava as autoridades de uma forma mais ou menos cíclica a entrar em conluio com os grandes proprietários e dificultar a emigração. Mesmo que essa emigração fosse para outros territórios Portugueses como Angola e Moçambique. Num aparte, talvez o maior aliado dos grupos de libertação nas ex-colónias foi a burocracia Portuguesa, que fez o seu melhor em estancar a migração de Portugueses para África.

Mas a modernidade chegou, mesmo que atrasada e raquítica, Portugal urbanizou-se. E a aceleração dessa urbanização durante o final do Estado Novo e inicio do período democrático foi feita com bastantes desequilíbrios. Notavelmente, levando a que a População se concentrasse na sua maioria numa faixa de 90 Km do litoral que vai do rio Minho até à zona de Setúbal. E que o interior ficasse cada vez mais desertificado.

A Urbanidade, A Precariedade e A Natalidade

O final do Império Colonial e do Estado Novo são caracterizados por uma espécie de “Baby Boom” lusitano. Há uma mistura de contingentes de refugiados das ex-colónias com um aumento momentâneo da natalidade. Este período dos anos 70 de crescimento explosivo da população veio mais tarde a forçar o sistema de educação publico a crescer muito mais rapidamente do que o País estava preparado.

Entre os anos 70 ao final dos anos 80 há que se poderia chamar um período de urbanização selvagem. Com a construção generalizada blocos de apartamentos, na sua generalidade de má qualidade, e crescimento de grandes zonas dormitório. Há no geral uma grande desorganização no planeamento do território, e no geral investe-se muito pouco no transporte publico. Muitos dos constrangimentos que temos hoje em dia nas grandes zonas metropolitanas de Lisboa e Porto têm a sua origem durante este período.

Durante o mesmo período, e devido em grande parte à inexistência de um mercado de arrendamento funcional, os vários governos promoveram a aquisição de casa própria. Inicialmente através da bonificação dos juros, e depois pela via da liberalização do crédito à habitação. Em paralelo a participação das mulheres na economia continuou a aumentar, em grande parte porque era impossível na grande maioria dos casos sobreviver com apenas o salário de uma pessoa na família.

Aqui começam os elementos que complicam as decisões de iniciar uma família, e de quantos filhos é possível ou desejável ter. Uma mulher com o tempo condicionado pelo seu emprego, onde nem sempre os aspetos da família são conciliáveis, pode ter que adiar ou evitar ter mais um/a filho/a. A exemplo:

  • Emergências familiares relacionadas com doenças de filhos e outros dependentes que exijam ausência do local de trabalho são mal vistas pelas entidades patronais e até pelos colegas. E obrigam a uma lista enorme de documentos justificativos e atestados para justificar as ausências.
  • As entidades patronais têm uma visão muito liberal do que é o tempo pessoal e familiar dos seus funcionários. Sendo que em alguns sectores, patrões e gestores têm por habito de contactar os funcionários para substituir ausências, ou resolver assuntos durante o seu período de descanso. Sem que para isso haja uma contrapartida financeira ou do tempo de descanso perdido.
  • Praticas discriminatórias, que vão desde despedimento sumário de funcionárias que engravidam, a assédio moral quando questões familiares têm impacto nas expectativas da entidade patronal.
  • Salários que na sua mediana são baixos, e que estagnaram. O que implica que quem é funcionário da empresa por muitos anos e sem promoções formais, que vai ter um salário muito similar ao seu salário de entrada.

Ao ambiente profissional agressivo e muito rígido, temos depois que para a aquisição de casa as pessoas são obrigadas a comprar em zonas que são bastante afastadas do seu local de trabalho. E com a penalização de essas zonas não serem cobertas por transportes públicos, incorrendo na necessidade da viatura própria. Que em alguns casos pode ser duas ou mais viaturas por família. Porque os locais de trabalho podem estar em locais geográficos que são incompatíveis com ter apenas uma viatura. Isto para os níveis salariais portugueses é incomportável.

Assim sendo, as famílias portuguesas em idade para ter filhos estão dependentes da ajuda dos seus pais. Seja para tomar conta das crianças, para ser encarregado educação, para cobrir as despesas com a alimentação e para todo tipo de suporte económico e social.

A isto tudo junta-se a precariedade das relações laborais, das relações com o Estado e das relações humanas. A falta de segurança no trabalho leva a que qualquer decisão de vida, como ter uma família seja adiada. A fragilidade nas relações humanas pode por em causa a própria sobrevivência. E por fim o Estado, ao sistematicamente mudar as regras como quem muda um par de meias, dificulta ainda mais a vida do cidadão.

Estes elementos aceleraram a queda da natalidade, e que se notou de uma forma muito acentuada em muitas áreas urbanas a partir do final dos anos 90. E pela primeira década de 2000, era notório o envelhecimento da sociedade Portuguesa. No entanto, o empresariado ainda tinha o enorme contingente de 1970 para digerir. E por isso não esteve de todo interessado em pensar no futuro.

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O estado de crise permanente que se vive em Portugal depois da crise financeira de 2009, está infelizmente em parte ligado aos excessos do crédito ao consumo durante o período entre 1999 e 2008. A nossa população urbanizada de forma muito rápida e recente viveu o consumismo de forma intensa. A falta de um processo de transição e de adaptação mais prolongado à vida urbana, levou ao abraço de um materialismo pago em prestações. Que tinha como expectativa que os salários subissem na mesma proporção do que aconteceu nos anos 90.

A depredação das empresas do crédito ao consumo, e a ilusão do dinheiro fácil, adicionaram um novo elemento de precariedade na sociedade. A família endividada, com medo de perder o emprego, com os cobradores de contas a acossar, com as penhoras e a ansiedade de perder a casa.

Para as entidades empregadoras todos estes problemas passam-lhes ao lado, para estas os problemas são a suposta preguiça e falta produtividade dos funcionários, que os sindicatos fazem muitas greves, e que o Estado emprega demasiada gente. Esquecendo-se que o Estado tem promovido a precariedade de relações de trabalho. Promovendo um modelo em que existem uns poucos que ainda retêm as proteções do pós 25 de Abril, e o resto que vive sob a lei da selva.

E é neste contexto que as crises obrigaram muitas pessoas a dar o salto para fora, e levaram por essa via à aceleração da queda da população ativa em Portugal. O que complica muitas das praticas empresariais que têm por objetivo, desvalorizar o trabalho e pagar salários baixos. Como exemplo:

  • A excessiva intermediação feita por agências de recursos humanos e outsourcing, há casos de pessoas que estão numa empresa a trabalhar para duas ou três empresas de colocação de recursos.
  • Excluir pessoas com mais de 30 anos, ou pessoas que estejam desempregadas por muito tempo (independentemente da razão).
  • Excessiva rigidez de requisitos em termos de certificações, desprezando pessoas que têm a experiência de trabalho em relação a quem tem uma licenciatura.
  • O exagero que foram as reformas antecipadas como forma de remover funcionários mais velhos.
  • A pratica de só dar salários bons a quem tenha cargos de gestão, e da desvalorização do trabalho técnico.
  • Despedir o funcionário sob qualquer justificação e o mais rapidamente possível, mesmo que a retenção desse funcionário fosse mais vantajosa a longo prazo.

E neste aspeto, a pandemia e todos os esquemas que foram usados para as empresas rapidamente se desfazerem dos funcionários teve um impacto enorme. De uma só vez qualquer relação de confiança que possa ter existido entre o empregador e o funcionário foi desfeita. Isto foi repetido e magnificado por dezenas a centenas de milhar. O que significa que nenhuma pessoa vai voltar para um empregador que o deixou na mão no momento em que todos se sentiam em dificuldades.

O Estado e os Empresários criaram uma economia de empregos de baixa qualidade e alta precariedade. E em que qualquer Português que tenha alguma competência e experiência profissional que seja desejada fora do País, vai ter a possibilidade de sair. Numa situação em há também falta de mão-de-obra em outros países Europeus, e em que estes oferecem melhores condições. Vai ser difícil não haver dentro da maioria das famílias exemplos de quem tenha emigrado. E há uma coisa, a emigração é contagiosa. Com cada exemplo positivo, mais se sentem incentivados a tentar.

Os empresários Portugueses podem muito facilmente verificar que esta é uma situação que eles ajudaram a criar. Mas longe de assumirem as suas responsabilidades e a sua contribuição para o problema. Preferem que o Estado lhes crie regras especiais para poderem fazer com outros aquilo que deixam de poder fazer com os Portugueses. E infelizmente a falta de memória das confederações empresariais, leva a não ter em conta que durante o período da Troika muitos dos imigrantes de Leste que viviam em Portugal foram embora.

Sendo que é importante lembrar, se querem uma força de trabalho qualificada e que se mantenha no País, têm que dar condições de vida e de trabalho. Viver da miséria alheia é feudalismo.

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O Vicio do Trabalho Alheio Barato

Um dos aspetos mais insidiosos da cultura portuguesa é o hábito de desvalorizar o trabalho alheio, é esperado que o esforço dos outros seja pago em migalhas. Mas ao mesmo tempo espera-se que o trabalho executado seja de qualidade ou em quantidade, e sempre barato. Muitas vezes dirigido e sem direito a autonomia, sempre sujeito a ser exposto pelos defeitos reais ou imaginários o que assegura que a pessoa que trabalhou saiba sempre o seu lugar.

O valor do trabalho e da ética de trabalho na sociedade portuguesa é um paradoxo, queremos que as pessoas façam um bom trabalho quando nos interessa mas não estamos interessados em valorizar a pessoa que o faz. Queremos que a pessoa seja diligente e responsável, mas ao mesmo tempo promovemos amigalhaços e familiares. Temos um ciúme tremendo de qualquer pessoa que tenha protagonismo por ser competente, por isso enchemos os nossos quadros de pessoas ineficazes e que são fáceis de controlar. Queremos paus mandados e por conseguinte ao mesmo tempo ficamos surpreendidos porque as pessoas engonham e demoram a executar qualquer tarefa.

O trabalho tradicionalmente na nossa cultura predominantemente católica é visto como um fardo que se suporta para poder ter recursos para sobreviver. Aqueles que podem escapar a este fardo derivado do seu estatuto social raramente querem-se envolver em qualquer tipo de atividade que se assemelhe com trabalho. De facto o trabalho raramente confere estatuto por si só, e historicamente em Portugal a burguesia que enriquecia no comércio e nas manufaturas logo que possível vendia esses negócios e comprava terras e propriedades para viver dos rendimentos.

É surpreendente que num País que tem que criar riqueza através do trabalho e do engenho do seu povo, que na prática o trabalho seja organizado e enquadrado de formas que diminuem o seu valor e por conseguinte o potencial de crescimento económico e de melhoria das condições de vida da generalidade da população. E é importante expor o porquê desta situação que leva à continuidade de um ciclo de sub-desenvolvimento.

Aspetos Históricos

Um dos aspetos que levou ao atraso do desenvolvimento económico em Portugal foi a inexistência de uma classe mercantil forte e em número suficiente que pudesse fazer de contra-peso à monarquia absolutista, à nobreza e ao clero. A cristalização e estagnação das estruturas sociais Lusas tem raízes históricas profundas, e que levaram a que a criação de riqueza endógena no território de Portugal Continental fosse limitada em nome da imobilidade social. Mas para essa imobilidade social ser institucionalizada foram importantes estes fatores:

  1. A perseguição e discriminação recorrente de Judeus e cristãos novos, que criava impedimentos na competição e estabelecimento de atividades económicas. Estes impedimentos tinham não só natureza religiosa mas também resultavam de uma competição por lugares de estatuto e ofícios que geravam vantagens sociais e económicas. E sendo que a percentagem destas populações que era instruída era relativamente maior do que população em geral, essa vantagem criava rancores que eram aproveitados tanto pelo monarca ou outros actores políticos quando interessava. Isto criou processos sociais que visavam limitar a competição por lugares limitados e cuja nomeação seria feita não por mérito mas por cunha.
  2. A expansão ultramarina criou as condições para as elites se desligarem da necessidade de desenvolver uma economia urbana local, e assim manter o status quo socioeconómico. As trocas comerciais com os novos territórios em África, Ásia e Américas eram por norma enquadrados no âmbito de monopólios da coroa ou sobre a sua intensa supervisão. A coroa usou um sistema de nomeações para os postos de comércio que teve como consequência o impedimento do acesso direto de agentes privados a oportunidades de comércio mas que garantiu que tal iria acontecer pela corrupção dos agentes da coroa. Os recursos financeiros gerados por este império foram usados para o fausto da coroa, para comprar a lealdade da nobreza e do clero, e financiar a perseguição de todos que eram considerados indesejáveis.

De facto, em muitos aspetos a nossa atual visão sobre o trabalho está ancorada no que se passou durante o período de expansão quinhentista. O resultado deste período pode ter sido um excedente de riqueza que passou pelo País, mas ao mesmo tempo a natureza absolutista do regime limitou quem podia usufruir dessa mesma riqueza. Ao mesmo tempo, derivado das perseguições e discriminação de Judeus e Cristãos Novos as necessidades de pessoas que pudessem praticar certos ofícios de natureza técnica foram supridas com o acesso a pessoas que vinham de outros lados da Europa ou pela importação de artigos já acabados.

Ao mesmo tempo o acesso a escravos, que em parte foi incentivada pela falta sistémica de mão-de-obra, comum neste período devido à elevada mortalidade. Serviu não só para diminuir a humanidade daqueles que foram escravizados mas também para diminuir as pressões salariais pela mão-de-obra livre. Sendo que para aqueles que a única coisa que tinham para vender era o seu trabalho, que a sua recompensa pelos seus esforços seria no mínimo miserável.

Mas o mais importante, é que este período criou a raiz do sistema em que o Estado e os seus agentes procuravam controlar os recursos financeiros que chegavam do império ultramarino. Ao mesmo tempo, agentes dentro do sistema (nobreza, operadores oportunistas, etc…) utilizavam o seu conhecimentos dentro deste e corrompiam ativamente os agentes da coroa. E com o passar do tempo, a Coroa começou a ter dificuldades acrescidas em cobrar impostos ou a ter acesso aos recursos que tanto cobiçava. Visto que estes eram em larga medida capturados por pessoas ou ligadas a interesses locais ou à própria nobreza.

O Atraso Perene e Persistente

O atraso português é o resultado deliberado das elites quererem manter um status quo em que a mobilidade social tinha que ser extremamente limitada. E onde era indesejado o aparecimento de novos grupos sociais que podiam criar desafios à ordem estabelecida e por isso gerar instabilidade política. E uma vez que as elites podiam obter recursos financeiros direta ou indiretamente da exploração de negócios em territórios distantes, havia muito pouco apetite em permitir mudanças sociais. Por isso enquanto as elites dissipavam a sua riqueza em fausto e projeção de estatuto, o povo na sua generalidade descia à pobreza e sub-desenvolvimento. A falta de competição social levou eventualmente a uma situação em que à pobreza generalizada juntava-se a negligencia das propriedades pelas elites que eventualmente também entravam na bancarrota.

Como em Portugal a reforma religiosa não chegou, e o Catolicismo conseguiu segurar a sua influência, a outra consequência para além das perseguições religiosas e da manutenção da inquisição foi o atraso na expansão da literacia. O protestantismo com a sua ênfase na transmissão dos ensinamentos religiosos na língua vernácula criava um grande incentivo à aprendizagem da leitura. Em contraste com o Catolicismo em que os serviços religiosos eram realizados em Latim.

À falta de incentivo religioso para a aprendizagem da leitura, juntam-se as ações das autoridades que não só desincentivam como em alguns casos destroem a infraestrutura existente de ensino por motivações politicas (e.g. quando o Marquês de Pombal expulsou os Jesuítas de facto destrói todo o ensino secundário que existia). O resultado disto é um povo que é maioritariamente rural e socialmente conservador, que vive segundo tradições instituídas e que por natureza é facilmente brutalizado pelas elites e autoridades.

O atraso na literacia é um fator muito importante na explicação da falta de crescimento de uma economia urbana vibrante, sendo verdade também que as elites rurais propositadamente procuraram fixar as populações através da limitação de oportunidades de educação. Havendo outros aspetos que não ajudaram também, como a falta de produtividade agrícola derivada da inconstância do clima, a falta de rios navegáveis, entre outros.

Mas é um facto que as elites mesmo durante o período da monarquia liberal, na primeira republica, e no Estado Novo procuraram desincentivar o ensino e a literacia. Como forma de limitar a capacidade de negociação laboral, de fixar populações pela limitação da informação que estas podiam estar expostas, e evitar a expansão de ideias políticas que podiam por em causa o status quo. Estas ações das elites foram amplificadas pela natureza conservadora das populações, que em muitos casos rejeitavam as novas modas e as tentativas de modernização. Em alguns casos essa rejeição tinha características violentas tal como as revoltas desencadeadas pelas reformas de Costa Cabral. Num aparte, a população portuguesa durante o século XIX era tão conservadora que se fosse dada a possibilidade de votar entre Dom Miguel e os seus opositores liberais, o povo na sua maioria teria votado no absolutista Dom Miguel.

O resultado do atraso na expansão da literacia foi que a natureza do trabalho em Portugal manteve-se muito ligada ao trabalho rural, com caraterísticas pouco técnicas, tradicionalista na forma de transmissão de conhecimentos, com baixo nível de diferenciação e de baixo valor económico. O trabalho era no seu todo modelado dentro de um modelo de plantação, onde uma mão-de-obra com pouco poder de negociação labuta sob a pressão de capatazes autoritários que tentam espremer o máximo possível de uma forma mais ou menos sádica. Enquanto proprietários na sua grande maioria ausentes a viver nos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto vivem dos rendimentos, esbanjando em demonstrações de estatuto para fazer inveja aos seus pares.

Assim ao atraso da literacia temos também o atraso na formação das profissões intermédias, o atraso na formação de mecânicos, contabilistas, administrativos, vendedores, especialistas financeiros, etc., e uma grande diversidade de profissões técnicas que ajudariam a criar uma classe média. Se juntarmos a isto a falta de acumulação capitalista derivada da inexistência de uma classe mercantil estabelecida, pode-se concluir que as opções das elites conduziram a um caminho em que o trabalho está condenado a ser de baixo valor.

A Historia Recente e As Oportunidades Perdidas

Em Portugal raramente as elites sentiram necessidade de elevar o povo a não ser quando obrigadas pelas circunstancias. Durante o Estado Novo as tentativas de expansão do ensino e industrialização eram sujeitas a oposição das classes conservadoras que apoiavam o regime, e do próprio centro de poder que via estes desenvolvimentos como potenciais desestabilizadores da ordem estabelecida. No entanto os acontecimentos do pós-guerra levaram a economia portuguesa a reboque, que mesmo sem um movimento laboral livre via o forte crescimento económico melhorar o panorama socioeconómico nacional. Mas no entanto este crescimento não era distribuído geograficamente por igual, sendo que as zonas rurais onde a pressão demográfica e a falta de empregos levava à migração em massa para os grandes centros urbanos. Centros estes que se tornavam focos de intensa miséria e pobreza, algo que era escondido dos media pela censura.

No entanto, e apesar do crescimento de grandes grupos económicos, o modelo de exploração empresarial continuava a ser um modelo de plantação. O País tinha (e tem) falta enorme de quadros intermédios, e é muito comum ter o chefe a fazer papeis operacionais, de análise e de gestão dos mais pequenos aspetos. Nesta cultura de falta de confiança a delegação é um processo confuso.

Estes lugares intermédios não só não eram preenchidos, como também eram mantidos em quantidades reduzidas para que a potencial de mobilidade social fosse minimizado. Isto cria uma sociedade onde em organizações complexas temos o chefe e os operacionais, mas não temos os papéis de suporte. Isto foi bastante evidente durante a guerra colonial, quando a falta de patentes intermédias começou a criar constrangimentos operacionais e eventualmente despoletou uma série de acontecimentos que levariam à Revolução de Abril.

O incremento do ensino secundário e universitário levou que os receios das elites mais conservadoras se realizassem, não só a contestação estudantil tornou-se uma dor de cabeça para as autoridades. Mas também tornou-se um lugar de aprendizagem para futuras lideranças políticas, que para um regime cristalizado e tendencialmente imobilista teria sido muito difícil cooptar estes novos elementos e integra-los dentro do sistema. E por isso a reação foi limitar o acesso ao ensino superior, tanto nas letras como nas áreas técnicas.

Daqui resultou um elemento característico da realidade portuguesa, uma vez que o número de licenciados era excessivamente baixo, estes eram “chutados” para cargos de gestão intermédios. A tal ponto, que o mito do Senhor Engenheiro e do Senhor Doutor tornou-se pervasivo e uma espécie de galhardete necessário para poder projetar autoridade.

Ao mesmo tempo, uma vez que o movimento sindical era na sua maioria clandestino e onde o Estado favorecia o patronato. Muitas vezes prendendo ativistas sindicais, e vigiando qualquer sinal de luta laboral organizada. Este impedimento a que os conflitos laborais fossem jogados em publico, levou que tanto ao nível do patronato como ao nível dos sindicatos não tenham sido criados os elementos institucionais que permitiriam uma coordenação no futuro mais positiva para os dois lados. Assim, o patronado evoluiu para uma visão maximalista dos seus direitos e prerrogativas, enquanto os sindicatos evoluíram para serem cooptados pelos partidos políticos e perderem a sua independência institucional.

A revolução de Abril veio a acabar com o Estado Novo e muitas das suas instituições, e fechar de umas vez por todas com o capitulo do Império. Mas dada a natureza caótica do processo revolucionário, e da indefinição política inicial dos oficiais que fizeram o golpe, isto levou a um processo de de-evolução económica. De facto, pode-se dizer que o 25 de Abril voltou o País para o período monárquico liberal em termos de organizações e empresas. A nacionalização da Banca resultado da crise bancária que se gerou. Um evento que teria sido impossível de evitar dado que uma grande parte dos ativos dos grandes grupos nas colónias seriam expropriados ou simplesmente destruídos durante a descolonização. E por conseguinte, estas perdas económicas iriam criar imparidades enormes no ativos dos Bancos, que eram onde estavam centralizadas a maioria das participações e onde estavam centralizados os empréstimos para estes investimentos nas colónias.

As nacionalizações acabaram por tornar-se uma oportunidade para os vários agentes políticos servirem os seus próprios interesses. Os partidos de poder tentavam por todos os meios pôr os seus quadros dentro das empresas nacionalizadas. E os sindicatos utilizaram estas empresas como arma de arremesso político para os seus patronos na oposição ao partido no poder. Esta foi uma imensa oportunidade perdida de reorganização empresarial, o resultado foi a desindustrialização e a diminuição de escala das empresas na economia Portuguesa.

A outra grande oportunidade perdida foi a entrada na CEE agora União Europeia, os grandes erros começaram por uma falta de estratégia de desenvolvimento que não fosse para além de criar novas infraestruturas. E neste aspeto a utilização de fundos Europeus para a formação profissional acabou por ser inútil no propósito de fazer o “upgrade” às competências dos trabalhadores. Primeiro, porque não criou nem tentou-se criar os mecanismos de verificação da utilização dos fundos. Segundo, porque a maioria das iniciativas estavam dissociadas de projetos para serem postos em prática, e terceiro na sua maioria a gestão e o patronato não estavam interessados em fazer alterações organizacionais para poder utilizar estes fundos como multiplicador de investimento interno.

E por fim, o problema, é que num mercado “livre” os agentes têm por tendência de manter-se dentro dos mesmos comportamentos se não houverem constrangimentos ou incentivos institucionais em contrário. Chama-se a isto inércia… E por conseguinte, o resultado foi a manutenção de baixos salários e baixa produtividade.

Conclusão

Um dos aspetos que me choca é que mesmo num Governo de esquerda o como a manutenção de salários baixos é um ponto central de política efetiva. E choca-me porque para um País que se encontra prestes a um colapso demográfico, e que precisa de criar uma base fiscal sustentável de pessoas que têm bons salários, teima em acentuar os seus problemas fiscais futuros.

Choca-me também a reação dos políticos quando os sindicatos agem de forma realmente independente e eficaz. Tal como no caso dos enfermeiros e camionistas de substancias perigosas, em que um Governo de esquerda foi tão motivado para acabar com esses movimentos e impor condições autoritárias.

E o problema mais grave é quando o Governo promove ativamente a entrada de imigrantes com o único objectivo de manter o País com o vicio dos salários baixos. Seja na apanha da fruta em estufas, ou nas consultorias de IT. Existe um problema sério em que a massa salarial de grande parte da população está ou em estagnação ou a diminuir. E que para não ganhar ainda menos as pessoas sujeitam-se a esquemas de subsidio de alimentação ou transporte, ou outros esquemas para manterem-se à tona de agua. Sendo que este esquemas não entram na contagem para a reforma ou subsidio de desemprego.

As elites portuguesas têm de forma consistente condenado o seu povo a uma existência de penúria, de divida e de dificuldades financeiras. Se não fossem as transferências inter-geracionais dentro das famílias esta situação seria muito pior. Mas com uma demografia cada vez mais caracterizada por famílias mais pequenas e atomizadas este suporte vai ser cada vez menor.

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